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"T'Enpl<br />
258 O. LEVI-STRAUSS<br />
de aldeia se constrangem a viver e a respirar uma pela Gutra,<br />
uma para a antra; trocando as mUlheres, os bens e os servic;;os<br />
numa fervente preocupa~ao de reciprocidade; casando seus<br />
filhos entre ~les, enterrando mutuamente as seus mortos, garantindo-se<br />
uma a autra que a vida e eterna, 0 mundo caritativo<br />
e a sociedade justa. Para atestar essas verdades e manter-se<br />
nessas convic~es, seus sAbios elaboraram uma cosmologia<br />
grandiosa; inscreveram-na no plano de suas aldeias e<br />
na distribui~o das casas. As contradi~es contra as quais se<br />
chocavam, tornaram-nas e retomaram-nas, jamais aceitando<br />
uma posi~ao senao para nega-la em proveito de autra, cortando<br />
e talhando os grupos, associando-os e afrontando-os,<br />
fazendo de tilda a sua vida social e espiritual um brasao em<br />
que a simetria e a assimetria se equilibram, como as cornplexos<br />
desenhos com que uma bela Caduveo, mais obscuramente<br />
torturada pela mesma preocupa!:3.o, aeutila seu ro~to"<br />
Mas, que resta de tudo isso, que subsiste das metades, das<br />
contra-metades, dos clas, dos sub-eliis, diante desta verifica~o<br />
que parece impor-nos observa~es recentes? Numa sociedade<br />
complieada como que por prazer, cada cUi se divide em tres<br />
grupos: superior, medio e inferior, e, aeima de tOdas as regulamenta~es,<br />
plaina a que obriga urn superior de uma metade<br />
a easar-se com urn superior da outra, urn medio com urn<br />
medio; e urn inferior, com urn inferior; quer dizer que, sob<br />
o disfarce de institui~es fraternais, a aldeia bororo naD passa,<br />
em ultima amilise, de tr€!s grupos, que se easam sempre entre si.<br />
Tr€!S sociedades que, sem 0 saber, permanecerao para sempre<br />
distintas e isoladas, eada uma prisioneira duma soberbia,<br />
dissimulada aos seus pr6prios olhos por institui~es enganadoras,<br />
a tal ponto que eada uma e a vitima ineonsciente de<br />
artificios para os quais ja nao pode descobrir um objeto. Os<br />
Bororo, por mais que tivessem desenvolvido 0 seu sistema<br />
Duma prosopeia falaeiosa, DaO eODseguiram mais que outros<br />
desmentir esta verdade: a representa~ao que uma sociedade faz<br />
das rela!;3es entre as vivos e os mortos reduz-se a urn esfof!:o<br />
para esconder, embelezar ou justifiear, no plano do pensamenta<br />
religioso, as rela!;3es reais que prevalecem entre os vivos.<br />
SETIMA PARTE<br />
NHAMBIQUARA<br />
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