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'IOnPI<br />

252<br />

que a noite cai, acende-se urn grande fogo na pra~a das<br />

dan~as, onde os chefes dos eras se v~m rennir; com uma voz<br />

forte, 0 arauto chama cada grupo: Badedjeba, "os chefes";<br />

o Sera, "as de ibis"; Ki, "os do tapir"; Bokodori, "os do grande<br />

tatu"; Bakoro (do nome do herM Bakororo); Boro, "os de<br />

tembeta"; Ewaguddu, "os da palmeira buriti"; Arore, "os da<br />

lagartixa"; Paiwe, "as do ouri~o"; Apibore (sentido duvidoso)"<br />

,(1) A medida em que comparecem, as ordens do dia<br />

seguinte sao comunicadas aDs interessados, sempre no meSilla<br />

tom elevado que leva as palavras ate as cabanas mais afastadas.<br />

A essa hora, 'elas estao, de resto, vazias, ou quase. Com a<br />

queda do dia, que afasta os mosquitos, todos os homens saem<br />

de suas casas familiais, a que se tinham recolhido por volta<br />

das 6 horas. Cada urn traz no bra~o a esteira que estendera<br />

sobre a terra batida da grande pra~ redonda situada no<br />

lado oeste da casa masculina. Deitam-se, rodeados por uma<br />

coberta de algodao cor de laranja pelo contacto prolongado<br />

com os corpos revestidos de urucu e na qual 0 ServiGO de<br />

Prot~ao diflcilmente reconhece.ria urn dos seus presentes.<br />

Nas esteiras maiores, instalam-se em cinco ou seis, trocando<br />

poucas palavras. Alguns esUio s6s; circula-se entre todos<br />

esses corpos estendidos. A medida em que prossegue a chamada,<br />

os chefes de familia nomeados se levantam, urn depois<br />

do outro, recebem suas ordens e voltam a deitar-se de barriga<br />

para cima. As mulheres tambern deixaram as cabanas. Elas<br />

formam grupo a soleira das portas. As conversas tornam-se<br />

eada vez mais raras, e, progressivamente, conduzidos primeiro<br />

por dois ou tres oficiantes e amplificando-se A medida das chegadas,<br />

eome~m-se a ouvir, no fundo da casa dos homens,<br />

depois na pr6pria pra~a, os cantos, oS recitativos e os coros<br />

que durarao a noite inteira.<br />

o morto pertencia A metade sera; eram, pois, os Tugare<br />

que oficiavam. No centro da pra~a, urn monte de folhagens<br />

figurava a tumba inexistente, ladeada, a direita e a esquerda,<br />

por felxes de flechas diante dos quais as tigelas de alimento<br />

tinham sido dispostas. Os padres e os cantores eram uma<br />

duzia, a maior parte cobertos por urn largo diadema de penas<br />

de c6res briIhantes, que outros traziam pendurado sobre as<br />

midegas, acima do leque retangular de vime cobrindo as espa-<br />

(1)<br />

utilmente<br />

indigenas.<br />

O. LEVI-STRAUSS<br />

Os espeeialistas da lingua bororo contestariam ou precisariam<br />

algumas dessas tradu~oes; limito-me, aqui, as informa~oes<br />

I I'<br />

I<br />

TBXSTES TB6Plaos 253<br />

Li<br />

i<br />

~u SOlU;)U<br />

duas e retido por urn cordaozinho passado em redor do pesco~o,<br />

Uns estavam completamente nUS e pintados, seja de<br />

vermelho uniforme ou crespo, seja de preto, ou ainda recobertos<br />

de faixas de pluma branea; outros traziam uma longa saia de<br />

palha. A personagem principal, encarnando a jovem alma, a~arecia<br />

em dois trajes diferentes segundo os momentos: ora vestldo<br />

de folhagem verde, com a cabef:3. coroada do enorme chapeu<br />

que ja descrevi, e trazendo, A maneira de uma cauda ... d~<br />

corte a pele de jaguar que urn pagem segurava atn'is dele,<br />

ora ~u e pintado de preto, tendo como linico ornamento urn<br />

objeto de pallia semelhante a grandes ar~s de 6culos, ~odeando-Ihe<br />

os olhos. Esse pormenor e partlcularmente lllteressante<br />

por causa do motivo am'ilogo pelo qual se reconhece<br />

Tlaloc, divindade da chuva no MexiCO antigo. Os Pueblo do<br />

Ariwna e do Novo-l\iexico consen:am, talvez, a chave do<br />

enigma; entre eles, as almas dos mortos se t~ansformam em<br />

deuses da chuva; e, aMm disso, possuem dn...ersas cren~a.s<br />

relativas a objetos magicos protetores dos olhos e que permltern<br />

ao seu possuidor tornar-se invisiveI. Observei co_m g:ande<br />

freqiiencia que os 6culos exerciam enorme atra{:ao sobre<br />

os indios suI-americanos; a tal ponto que, J?ftrtindo .p~ra a<br />

rninha ultima expedi~ao, levei uma verdadelra provlsao de<br />

arma~s sern vidro, que fez urn grande alvor~ entre os<br />

Nhambiquara, como se as cren~s tradicionais predlspusessem<br />

os indfgenas a acolher urn acess6rio tao inusitado. Os 6culos<br />

de palha jamais tinham sido notados entre os Bororo, mas,<br />

como a pintura preta serve para tornar invisivel quem com<br />

ela se revestiu, e verossimil que os 6culos ex~rc;:am a mes~a<br />

fun~ao, que e a mesma nos mitos pueblo. Enflm, os_butane?,<br />

espiritos responsaveis pela chuva entr: os Bor~ro, sao descrltos<br />

com uma aparencia temivel - presas e maos aduncas<br />

que caracteriza a deusa da ligna dos Maia,<br />

Durante as primeiras noites, tinhamos assistido as da~~as<br />

dos diversos cIas tugare: ewoddo, baiIe dos da ~aImelra;<br />

paiwe, baile dos do ouri!:O. Nos dois casos, os dan~rmos _estavam<br />

cobertos de folhagem da cabe~a aoo pes e, como naO se<br />

v~a 0 seu rosto este ultimo era imaginado mais alto, ao<br />

nivel do diadem~ de penas que dominava 0 traje, a tal ponto<br />

que se emprestava involuntAriamente as personagens u~a<br />

altura desmedida Em suas maos, tinham hastes de palmelra<br />

ou bastoes ornad~s de fOIhas. Havia duas especies de bailes,<br />

Em primeiro lugar, os bailarinos se exibiam s6s, di~ididos em<br />

duas quadrilhas que se enfrentavam nas extremidades do<br />

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