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110 O. LEVI-STIUUSS TBISTES TB6PICOS 111<br />

preocupa!:Oes dos empreendedores ftlssem simplesmeute financeiras,<br />

econ&micas ou humanitarias. Urn exame atento dos<br />

mapas revelava as segundas inten~es estrategicas que deviam<br />

ter inspirado a implanta~110 das fazendas. A extrema dificuidade<br />

que se encontrava em penetrar nos escrit6rios da Kaigai­<br />

Iju-Kumiai ou da Brazil-Takahoka-Kumiai, e mais ainda, na<br />

rede quase clandestina de hoteis, hospitais, ceramicas, serrarias,<br />

graf:as a qual a imigra~o era auto-suficiente, enfim nos prOprios<br />

centros agricoias, protegia intuitos tortuosos, dos quais<br />

a segrega~ao dos coionos em pontos bem escoihidos, por urn<br />

lado, por outro as pesquisas arqueol6gicas (metOdicamente conduzidas<br />

por ocasiao dos trabalhos agricoias, tendo por objeto<br />

sublinhar certas analogias entre os vestigios indigenas e os<br />

do neolitico japon€!s) DaO eram, verossimilmente, senao os dois<br />

aneis extremos.<br />

No cora~ao da cidade, certos mercados dos bairros populares<br />

eram mantidos por negros. Mais exatamente - ja que<br />

esse epfteto quase DaO tern sentido nUll pais em que uma<br />

grande diversidade racial, acompanhada de muito poucos preconceitos,<br />

pelo menos no passado, permitiu t6da sorte de misturas<br />

- podiam-se ai distinguir os mesti(,)os, cruzados de branco<br />

e negro, os caboclo8, de branco e indio, os cafu808, de indio e<br />

negro. Os produtos vendidos conservavam urn estilo muito<br />

puro: peneiras para farinha de mandioca, de fatura tlpicamente<br />

indfgena, formadas dum tran~ado frouxo de bambus<br />

recortados e cercado de lata; abanicos: abanadores para fogo,<br />

tamMm herdados da tradi~ao aborigene, e cujo estudo e interessante:<br />

cada tipo representa uma solu~ao engenhosa para<br />

transformar pelo tran~ado a estrutura permeavel e desfiante<br />

duma f6lha de palmeira em uma superficie rigida e continua,<br />

pr6pria a deslocar 0 ar quando violentamente agitada. Como<br />

ha muitas maneiras de resolver 0 problema e muitos tipos de<br />

fulhas de palmeira, e passivel combina-los para determinar<br />

tOdas as formas concebiveis e colecionar em seguida os especimes<br />

que ilustram esses pequenos teoremas tecnol6gicos.<br />

Existem duas especies principais de palmas: ora os foUolos<br />

sao distribuidos simetricamente de urn lado e outro duma<br />

haste mediana; ora, divergem em leque. 0 primeiro tipo<br />

sugere dois metodos: ou dobrar todos oS foliolos do mesmo lado<br />

da haste e tran~a-Ios juntos, ou tran~ar cada grupo de per si,<br />

dobrando os foUolos em Angulo reto subre si mesmos, inserindo<br />

as extremidades de uns atraves da parte inferior dos<br />

ouiros e reciprocamente. Obtem-se assim duas especies de<br />

abanadores: em asa, ou em borboleta. Quanto ao segundo<br />

tipo, oferece diversas possibilidades que sao sempre, ainda<br />

que em graus diversos, uma combina~ao das duas outras, e 0<br />

resultado em colher, em paleta ou em rosacea, evoca por<br />

sua estrutura uma especie de grande birote achatado.<br />

Outro objeto particularmente atraente dos mercados paulistas<br />

era a figa. Chama-se figa a urn antigo talisma mediterraneo<br />

em forma de antebraf:O terminado<br />

por urn punho fechado, mas<br />

no qual a ponta do poiegar emerge<br />

entre as primeiras falanges dos dedos<br />

do meio. Trata-se, sem duvida,<br />

duma figura~ao simb6lica do coito.<br />

As figas que se encontravam nos<br />

mercados eram berloques de ebano<br />

ou de prata, ou entao objetos do tamanho<br />

de insignias, grosseiramente esculpidos<br />

e pintados de cores vivas. Eu<br />

pendurava aiegres fileiras de figas<br />

no teto de minha casa, palacete recoberto<br />

de ocre, no estilo romano dos<br />

anos 1900, situada nos altos da cidade.<br />

Ali se penetrava sob uma arcada<br />

de jasmins e, por tras, havia<br />

urn jardim envelhecido em cuja extremidade<br />

eu pedira ao proprietario<br />

que plantasse uma bananeira para me<br />

convencer de estar sob os tr6picos.<br />

Alguns anos mais tarde, a bananeira<br />

simb6lica se transformara numa peguena<br />

floresta em que eu fazia as encontrada em Pom­<br />

FIG. 1 - Figa antiga<br />

minhas colheitas.<br />

peia (a extremidade do<br />

polegar estd quebrada).<br />

Nos arredores de 8110 Paulo, podia-se,<br />

enfim, observar e recolher urn<br />

rl1stico foIclore: festas de maio, em que as vilas se ornavam<br />

de palmas verdes, Iutas comemorativas, fieis a tradi~ao portuguesa,<br />

entre mouros e oristaos; procissao da nau catarineta,<br />

navio de papelao munido de velas de papel; peregrinagem a<br />

longinquas par6quias protetoras de leprosos oude, nos efll1vios<br />

desregrados da pinga - alcool de cana de ·~ucar, muito diferente<br />

do rum e que se toma puro ou em batida, isto e, misturado<br />

com suco de !imao - bardos mesti~os, de botas, vestidos<br />

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