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362 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PIOOS 363<br />

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entre as esta~es. En nao ficava, como tantos outros, deprimido<br />

pela perman~ncia num vale estreito em que as encDstas,<br />

em ramo de sua proximidade, tomam urn aspec:to de muralha<br />

e 86 deixam perceber urn fragmento do ceu que 0 sol percorre<br />

em algumas horas; muito pelo contrario. Parecia-me que<br />

essa paisagem de pe era viva. Em Ingar de se submeter passivamente<br />

a minha contempla~ao, a maneira de um quadro do<br />

qual se podem apreender os pormenores a distancia e sem<br />

nenhuma contribui~o pessoai, ela me convidava a uma especie<br />

de diillogo em que deveriamos, ela e eu, dar 0 melhor de n6s<br />

mesmos. 0 esfor~o fisico que eu despendia em percorr~-lo<br />

era alga que eu the cedia e pelo qual 0 sen ser se me tornava<br />

presente. Rebelde e provocante ao mesmo tempo, furtandome<br />

sempre uma metade de si mesma, mas para renovar a<br />

autra pela perspectiva complementar que acompanha a ascensao<br />

au a descida, a paisagem de montanha unia-se a mim Duma<br />

especie de baile que eu tinha a sensa~ao de conduzir tanto<br />

rnais livremente quanta melhor conseguira penetrar nas grandes<br />

verdades que a inspiravam.<br />

E toctavia, hoje, sou obrigado a reconhe~-lo: sem que<br />

me sinta mudado, esse arnor da montanha se desprende de<br />

mim como uma onda recuando na areia. Meus pensamentos<br />

continuaram os mesmos, e a montanha que me deixa. Alegrias<br />

inteiramente iguais se me tornam menos sensiveis por<br />

tl§-las procurado por urn tempo longo demais e com excessiva<br />

intensidade. Nesses itinerarios freqiientem.ente percorridos, ate<br />

a surpresa se tornon familiar; jA nao trepo nos fetos e nos<br />

rochedos, mas entre os fantasmas das minhas recorda~oes.<br />

~stes, perdem duplamente 0 seu atrativo; em primeiro lugar,<br />

devido a urn usa que os esvaziou da sua novidade; e sobretudo<br />

porque um prazer cada vez mais embotado e obtido it custa<br />

de um esfor~o cada vez maior. Envelh~, nada me adverte<br />

disso, a nao ser esse desgaste nos Angulos, outrora vivos, de<br />

meus projetos e de minhas empresas. Sou ainda capaz de<br />

repeti-los; mas jil nlio depende de mim que sua realiza~o me<br />

traga a satisfa~o que tao freqiientemente e tao fielmente<br />

me haviam proporcionado.<br />

Agora, e a floresta que me atrai. Encontro-lhe os mesmos<br />

eneantos que na montanha, mas sob uma forma mais tranqiiila<br />

e mais acolhedora. 0 haver percorrido tanto os sertoes desertos<br />

do Brasil central devolveu 0 seu valor a essa natureza<br />

agreste que os antigos amaram: 0 capirn novo, as flores e °<br />

frescor timido das sar~as. Desde entilo, jil nao era mais posgfvel<br />

conservar as Cevenas pedrentas 0 mesmo arnor intransigente;<br />

eu compreendia que 0 entusiasmo da minha gera~ao<br />

pela Proven~a era urn ardil de que nos tornavamos vftimas<br />

depois de termos sido os sens autores. Para descobrir - alegria<br />

suprema que nossa civiliza~ao nos retirava - sacrificilvamos<br />

a novidade 0 objeto que deve justificil-la. Essa natureza<br />

fora desleixada enquanto era facH alimentar-se com<br />

outra. Privados da mais valiosa, era-nos precise reduzir as<br />

nossas ambi~es a medida da que eontinuava disponfvel, glorifiear<br />

a secura e a dureza jA que somente essas formas nos<br />

estavam abertas de enta~ por diante.<br />

Mas, nessa mareha for~ada, tinhamos esquecido a floresta.<br />

Tao densa quanto as nossas cidades, ela estava povoada de<br />

outros seres formando uma sociedade que nos mantivera a<br />

distancia mais segurarnente que os desertos por onde avan~avamos<br />

loucamente, tanto pelos altos cimos como pelas charnecas<br />

ensolaradas. Uilla coletividade de arvores e de plantas<br />

afasta 0 hornern, apressa-se em cobrir 0 tra~o de sua passagem.<br />

l\luitas vezes difieil de penetrar, a floresta reclarna de quem<br />

a invade essas eoncessOes que, de maneira rnais brutal, a montanha<br />

exige do andarilho. Menos extenso que 0 das grandes<br />

cadeias, seu horizonte logo fechado encerra urn universe reduzido,<br />

que isola tao completamente quanta as aberturas desertieas.<br />

Urn mundo de ervas, de flores. de cogumelos e de insetos<br />

nela prossegue livremente uma vida independente it qual s6<br />

serernos admitidos com padenda e humildade. Algumas dezenas<br />

de metros de floresta bastam para abollr 0 mundo exterior,<br />

urn universe dA lugar a outro, menos complacente a vista,<br />

mas no qual a aUdi~ao e 0 olfato, esses sentidos mais pr6ximos<br />

da alma, encontrarn sua satisfa~ao. Bens que se acreditavam<br />

desaparecidos renascem: 0 silendo, 0 frescor e a paz. A intimidade<br />

com 0 mundo vegetal concede 0 que 0 mar agora nos<br />

reeusa e ogue a montanha faz pagar caro demais.<br />

Para me convencer disso, talvez f6sse preciso, entretanto,<br />

que a floresta me impusesse primeiro a sua forma mais virulenta,<br />

gra~s ao que os seus tra~os universais se me tornariam<br />

visiveis. Porque, entre a fIoresta em que me enterrava ao<br />

encontro dos Tupi-Cavaiba e a da Europa, a disHlncia e tao<br />

grande que mal se encontram palavras para defini-la.<br />

Vista de fora, a floresta amaz6nica parece urn amontoado<br />

de bolhas congeladas, um montao vertical de intumesceneias<br />

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