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412 O. LEVI-STRAUSS TRISTES TB6PICOS 413<br />
sera preciso, por v~zes, inclinar-nos diante da sua snperioridade;<br />
mas obtemos, por isso meSilla, 0 direito de julga-Ios, e,<br />
logo, de candenar tOO08 os Qutros fins que nao coincidem com<br />
os que aprovamos. Reconhecemos implicitamente uma posi~ao<br />
privilegiada a nossa sociedade, aDs sens usos e as suas Dormas,<br />
jii que urn observador, depeudendo de outro grupo social, manifestara,<br />
diante dos mesmos exemplos, vereditos diferentes.<br />
Xessas condi~oes, como poderiam nossos estudos pretender a<br />
categoria dentifica? Para encontrar uma posi~ao de objetividade,<br />
deveremos abster-nos de todos os julgamentos desse<br />
tipo. Sera precise admitir que, na gama das possibilidades<br />
abertas as sociedades humanas, cada uma realizou uma certa<br />
escolha, e que essas escolhas sao incompativeis entre si: elas<br />
se equivalem. Mas, surge entao urn novo problema: porque,<br />
se, no primeiro caso, estavamos amea~dos pelo obscurantismo<br />
soh a forma de uma recusa cega do que nao e nOS80, nos<br />
expomos agora a ceder a urn ecIetismo que, de uma cultura<br />
qualquer, nos impede recusar seja 0 que f&r: ate a crueldade,<br />
a injusti~ ou a miseria, contra as quais protesta, por<br />
vezes, a propria sociedade que as sofre. E como esses abusos<br />
existem tambem entre n6s, qual sera nosso direito de combate-Ios<br />
em casa, se basta que se produzam alhures para qne<br />
nos inclinemos diante deles?<br />
A oposiQ§.o entre duas atitudes do etn6grafo: critiea a<br />
domicilio e conformismo para usa externo, recobre, pois, outra<br />
de que the e ainda mais dificil escapar. Se quer contribuir<br />
para uma melhoria do sen regime so·cial, deve condenar, -onde<br />
quer que se encontrem, 'Condi~es analogas as que combate, e<br />
perdea sua objetividade e a sua impareialidade. Em troca,<br />
o desapego que lhe imp5em 0 escrupulo moral e 0 rigor cientifico<br />
impede-o de criticar a sua pr6pria sociedade, dado que<br />
niio deseja julgar nenhuma a fim de conheee-las tMas. Agindo<br />
em casa, priva-se de compreender 0 resto, mas querendo tudo<br />
compreender, renuncia a tentar qualquer rnodifica~ao.<br />
Se a contradi~ao f6sse intransponivel, 0 etn6grafo nao<br />
deveria hesitar s6bre 0 fim da alternativa que lhe foi proposta:<br />
e etn6grafo e tal quls ser; que acelte a mutila~iio<br />
complementar da sua voca~ao. Escolheu os outros e deve<br />
suportar as conseqiiencias dessa op~ao: seu papel sera sbmente<br />
compreender esses outros em nome dos quais nao poderia<br />
agir, ja que 0 simples fato de serem outros 0 impede<br />
de pensar, de querer, em seu lugar, 0 queequivaleria a identificar-se<br />
com eles. AMID disso, renunciara aaf;ao ua sua<br />
sociedade, temendo tomar posi~ao com respeito a valores que<br />
se podem encontrar em soeiedades diferentes, e, pois, introduzir<br />
0 preconceito no seu pensamento. Apenas subsistira a<br />
escolha inicial, par~ a qual recusara Wda justificaf;ao: ato<br />
puro, nao motivado; ou, se puder se-Io, por considera