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c. Li:VI-STBAUsS<br />
TRISTES TR6PICOS<br />
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"Em 1920, 0 pre~o da borracha cain eo· grande chefe (0<br />
coronel Raimundo Pereira Brasil) abandonou os seringais que,<br />
aqui on margem do Igarape Sao Tome. continuavam mnis OU<br />
menDS virgens. 0 tempo passava. Desde que tinha deixado as<br />
terras do coronel Brasil, minha alma de adolescente tinha conservado,<br />
gravada em caracteres indeIeveis, a lembran~a desaas ferteis<br />
florestas. Despertei da apatia em que nos tioha mergulhado a<br />
quedn repentina da borracha, e eu, que ja estava bern treinado e<br />
habituado a Bertholletia Excelsa, lembrei-me de repente dos cas~<br />
tanhais que via em Sao Tome.<br />
No Grande Hotel de Helem do Para, encontrei urn dia men<br />
antigo patruo, 0 Coronel Brasil. 1tle mostravu ainda as tra~os de<br />
sua antiga riqueza. Pedi-Ihe a permissao de trabalhar "sens"<br />
castanhais. E ele, com benevolencia, me deu a autoriza~ao; falou<br />
e disse: "Tudo aquilo esta abandonado; e muito longe e so continuam<br />
hl. os que nao puderam fugir. ~ao sei como eles vivem,<br />
e isso nile me interessa. Voce pode ir".<br />
Reuni uns restos de recursos, pedi a aviaQtio (assim se chama<br />
a rnercadoria tomada a credito) as casas J. Adonias, Adelino<br />
G. Bastos e Gon~alves Pereira & Cia., comprei urna passagem<br />
num navio da Amazon River e tomei a dire~lio do TapajOs. Em<br />
Itaituba, encontramo~nos: Rufino Monte Palma, Melentino Teles<br />
de Mendon~a e eu. Cada urn de nOs trazia 50 homens. Associa·<br />
mo-nos e vencemos. Logo cheglimos iL embocadura do Igarave<br />
Sao Tome. La encontnimos toda a popula~ao abandonada e<br />
sombria: velbos embrutecidos, mulheres quase nuas, crian~as<br />
anquilosadas e medrosas. Uma vez construidos os abrigos e<br />
quando tudo ficou pronto, reuni meu pessoal e tOdn essa familia<br />
e lbes disse: "Aqui esta a Mia de cada urn - cartucho, sal e<br />
farinha. No meu casebre nao hli nem rel6gio, nem folhinha; 0<br />
trabalho come~a quando pudermos distinguir os contornos de<br />
nossas maos calosas, e a hora do repouso vern com a noite que<br />
Deus nos den. Os que nilo estiverem de acordo nao terao 0 que<br />
comer; deverao contentar-se com 0 mingau de coquinhos e de<br />
sal dos brotos do anaja de cabe~a grande (do broto dessa palmeira.<br />
extrai-se, fazendo-o ferver, urn residuo amargo e salgado). Temos<br />
provisoes para sessenta dias, e devemos aproveita-Ias; nao podemas<br />
perder uma uniea hora desse tempo precloso. Meus socios<br />
seguiram meu exemplo e sessenta dias mais tarde tinhamos 1.420<br />
barrieas (cada barrica dli, mais ou menos, 130 litros) de castanhas.<br />
Carregamos as pirogas e descemos com a equipagem necessaria<br />
ate Itaituba. Fiquei com Rufino Monte Palma e 0 resto do pessoal<br />
para tomar 0 navio a motor Santelmo qne nos fez esperar<br />
uns bons 15 dias. Chegados ao pOrto de Pimental, embarcamos<br />
com as castanhas e todo 0 resto Da gaiola Sertanejo, e, em BeIem,<br />
vendemos a castanha a 47$500 0 hectolitro (2 dolares 30), infe~<br />
lizmente quatro morreram na viagem. J amais voltamos. Mas<br />
boje, com os pr~os que vao ate 220 mil reis 0 hectolitro, 0 curso<br />
mais alto ja alcan~ado segundo documentos que possuo, durante<br />
I<br />
a esta~ilo 1936-1987, que vantagens nilo nos prOmete 0 trabalbo<br />
d:'l castanha - que e uma coisa certa e positiva _ nao Como 0<br />
dl~mante subterrQneo e sua inc6gnita etema? E ai esta, amigos<br />
c....Ulabanos, como se faz castanba do Para no Estado de Mato<br />
Grosso."<br />
1':sses, ainda, puderam, em 60 dias, ganhar, entre 150 ou<br />
170 pessoas, urn total equivalente a 3.500 d6lares. Mas, qne<br />
dizer dos seringueiros, a cuja agonia minhas 11ltimas semanas<br />
de permanencia me permitiriam assistir?<br />
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