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44 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PXCOS 45.<br />
adquirida, explica que ainda hoje en pense no Brasil antes<br />
de mais nada como Dum perfume queimado.<br />
Consideradas retrospectivamente, essas imagens nao. me<br />
parecem tao arbitrarias. Aprendi que a verdade de uma sltua<br />
~ao DaD se encontra oa sua observa~ao cotidiana, mas nessa<br />
distila~ilo paciente e fragmentaria que 0 equivoeo do perfume<br />
ja me convidava talvez a pOt em pratica, sob a forma de urn<br />
troeadilho espontlineo, veicnlo duma li~o simMlica que eu<br />
ainda oao era capaz de formular claramente. Menos qu~ .u m<br />
percurso, a explora~ao e uma escava~ao: uma cena fugltl~a,<br />
urn canto de paisagem, uma reflexiio agarrada em plena VOO,<br />
sao os unicos meios de compreender e de interpretar horizontes<br />
que de Dutra maneira, se mostram estereis.<br />
'Naquele momento, a extravagante promessa de BougIe<br />
relativa aos indios me punha diante de outros problemas.<br />
Donde havia ele tirado a cren~ de que Silo Paulo era.uma<br />
cidade indigena, pelo menos nos seus arrabaldes? Sem ~uvlda<br />
de uma confusao com a capital do Mexico ou Tegu':Jgalpa.<br />
£:sse f116sofo, que havia outrora escrito uma obra sobre 0<br />
Regime das Castas na fndia, sem se perguntar urn s6 momento<br />
se nao era melhor, antes de mais nada, ir ate la para<br />
ver ("no fluxo dos acontecimentos, sao as institui~es que S?<br />
brenadam", proclamava ~le com arrogancia. n~ seu prefaclO<br />
de 1927) nilo acreditava que a condi~ilo dos llldlgenas pudesse<br />
ter urn reflexo serio na pesquisa etnografica. Sabe-se, de<br />
resto, que nao era ele 0 l1nico, entre os sOCi61ogos oficiais, a<br />
demonstrar essa indiferen@., cujos ex:emplos se perpetuam<br />
ate hoje.<br />
Seja como for, eu proprio era ignorante .demais para n~o<br />
acolher ilusOes tao favoraveis aos meus proJetos; tanto fiaiS<br />
que Georges Dumas passuia sabre a questiio no(;ijes. i~almente<br />
imprecisas: ~le havia conhecido 0 Brasil meridIOnal<br />
numa epoea em que 0 exterminio das popula(;ijes indigenas<br />
ainda nao tinha chegado ao seu termo; e, sobretudo, a SOCledade<br />
de mandoes, de senhores feudais e de mecenas que ele<br />
freqiientava quase nao Ihe havia fornecido luzes sobre 0 assunto.<br />
Fiquei, pois, muito surpreendido quando, duran~e urn Aal <br />
mO!: a que Victor Margueritte me havia levado, OUVl, da ~oca<br />
do embaixador do Brasil em Paris, a "nota" oficial: "indIOS?<br />
Ai! meu caro senhor, js. desapareceram ha muito~ lu~tros!<br />
Oh! e uma piigina bern triste, bern vergonhosa, da hlst6na do<br />
meu pais. Mas os colonos portugueses do seculo XV~ :ram<br />
homens avidos e brutais. Como censurar-Ihes ter partIclpado<br />
da rudeza geral dos costumes?£:les agarravam os indios,<br />
amarravam-nos as bOcas dos canh5es e estra~alhavam-nos vivos,<br />
a tiros. Foi assim que os destruiram, ate ao ultimo. 0 senhor.<br />
como soci610go, vai descobrir coisas apaixonantes no<br />
Brasil,. mas deixe de pensar em indios, pois nao mais encontrara<br />
nenhum..."<br />
Quando evoeo hoje em dia essas palavras, elas me pare<br />
.cern incriveis, mesmo na b6ca dum granfino de 1934 e, lembrando-me<br />
a que ponto a alta soeiedade brasileira de entao<br />
(felizmente, mudou depois disso) tinha horror de qualquer<br />
alusao aos indigenas e mais geralmente as condi~5es primitivas<br />
do interior, a nao serpara admitir - e mesmo sugerir<br />
- que uma tatarav6 india se encontrava na origem duma<br />
fisionomia imperceptivelmente ex6tica, e nao algumas gotas,<br />
ou litros, de sangue negro que se tornava de born tom (ao<br />
contrario dos antepassados da epoca imperial) tentar fazer<br />
esquecer. Entretanto, a ascendencia india de Luis de Sousa<br />
Dantas era visivel e tHe poderia facilmente glorificar-se dela.<br />
::\fas, brasileiro de exporta~ao que desde a adoleseencia adotara<br />
a Fran~a, perdera ate 0 conhecimento do estado real do<br />
seu pais, que se substitufra na sua mem6ria por uma especie<br />
de chapa oficial e distinta. Na medida em que certas recorda~es<br />
haviam permanecido, He preferia, tambem, segundo<br />
suponho, manchar os brasileiros do seculo 16, para desviar<br />
a aten~ao, do passatempo favorito dos homens da geratao de<br />
sens pais, e meSillO ainda do tempo da sua juventude: isto e,<br />
recolher nos hospitais as roupas infectadas dos variolosos,<br />
para pendura·las com Qutros presentes ao longo dos caminhos<br />
ainda freqiientados pelas tribos. Gra~as ao que, foi obtido<br />
este brilhante resultado: 0 Estado de Sao Paulo, tao grande<br />
quanto a Fran~a, que os mapas de 1918 ainda indicavam,<br />
em seus dois ter~os, como urn "territ6rio desconhecido habitado<br />
somente por indios", ja nao contava urn s6 fndio, quando<br />
ai cheguei em 1935, salvo urn grupo de algumas familias loealizadas<br />
no Htoral, que aos domingos vinham vender pretensas<br />
curiosidades nas praias de Santos. Felizmente, faltando nos<br />
arrabaldes de Sao PaUlo, os indios ainda eXistiam,_ a c~rca<br />
de 3.000 quilametros no interior. .<br />
E-me impossfvel passar por esse periodo sem dirigir urn<br />
olhar amigo para outro mundo que devo a Victor Margneritte<br />
(meu introdutor na Embaixada do Brasil) 0 ter-me feito<br />
entrever; ~le me conservara a sua amizade, depois de uma<br />
breve passagem a seu servi~o, como secretario, nos mens l1lti-<br />
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