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224 O. LEVI-STRAUSS<br />
Foram necessarias diversas balas para mata-la, pois €!sses animais<br />
sao indiferentes aos ferimentos no corpo: e precise atingir<br />
a cab~a; despojando-a, 0 que tomon meio dia, encontramos<br />
em suas entranhas uma dl1zia de filhotes, prontos para naseer<br />
e ja vivos, que 0 sol matou. E, depois, um dia, logo ap6s ter<br />
atirado com exito contra uma irara, avistamos duas formas<br />
nuas que se agitavam nas barrancas: nossos primeiros Bororo.<br />
Atracamos, tentamos conversar: 86 conhecem uma palavra de<br />
portugu~s: fUrno, que pronunC'iam sumo (nao diziam os antigos<br />
missionarios 'que os indios erarn "sem fe, sem lei, sem<br />
rei" porque DaO encontravam na sua fonetica nero 0 f. nem<br />
o l, nem 0 rf). Apesar de agrieultores, sen produto nao tern<br />
a concentra!:iio do tabaco fermentado e enrolado em corda<br />
de que os abastacemos liberalmente. Por gestos, explicamoslhes<br />
que desejamos ir ate A sua aldeia; fazem-nos compreender<br />
que Iti. chegaremos naquela mesma tarde; iraQ na frente para<br />
anunciar-noo; e desaparecem na floresta.<br />
Algumas hora'S mais tarde, abordamos urn barranco argiloso<br />
no alto do qual avistamos as cabanas. Meia dllzia de<br />
homens nus, avermelhados de urueu dos tornozelos as pontas<br />
dos cabelos, acolhem-nos as gargalhadas, nos ajudam a desembarear,<br />
transportam as bagagens. Eis-nos numa grande cabana<br />
que aloja diversas familias; 0 chefe da aldeia desembara!:ou<br />
urn canto para n6s; eIe pr6prio residira, durante a<br />
nossa permanE;ncia, no ontro lado do rio.<br />
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BONS<br />
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SELVAGENS<br />
Em que ordem de ideias deserever essas impressoes profundas<br />
e confusas que assaltam 0 recem-chegado numa aldeia<br />
indigena cuja civiliza~ao permaneceu relativamente intacta?<br />
Entre os Caingang como entre os Caduveo, cujos povoados<br />
semelhantes aos dos caboclos vizinhos chamam sobretudo a<br />
aten!';ao por urn excesso de miseria, a rea~o inielaI e a da lassidiio<br />
e do desanimo. Diante de uma sociedade ainda viva e<br />
fiel a sua tradi~iio, 0 choque e tilo forte que desconcerta:<br />
nesse novi;lo de mil e&res, que fio se deve seguir em primeiro<br />
lugar e tentar desembarao;ar? Evocando os Bororo, que foram<br />
a minha primeira experieneia desse tipo, encontro os<br />
sentimentos que me invadiram no momento em que iniciei a<br />
mais recente, ehegando, no eimo duma alta colina, a uma<br />
aIdeia "kuki" da fronteira birma, depois de horas passadas<br />
de quatro patas para me i@.r ao longo das eneostas, transformadas<br />
em lama escorregadia pelas chuvas da esta~i1o que<br />
caiam sem parar: esgotamento fisico, fome, sMe e perturba~ao<br />
mental, certamente; mas essa vertigem de origem organica<br />
e intelramente iluminada por perceP!:Oes de formas e<br />
de cores: habita!:iles majestosas pelo tamanho a despeito de.<br />
sua fragilidade; empregando materiais e tecnicas que deslgnamos<br />
por expressOes nanicas: pois essas casas, mais do que<br />
lIeonstruidas", sao amarradas, tran~adas, tecidas, bordadas e<br />
patinadas pelo uso; em lugar de esmagar 0 habitante sob a<br />
massa indiferente das pedras, reagem com flexibilidade a<br />
sua presen~a e aoo seus movimentos; ao contrario do que se<br />
passa entre n6s, elas perrnanecern sempre sujeitas ao homern.<br />
Em t()rno dos seus ocupantes, a aldeia se ergue como uma<br />
leve e elastica armadura; mais proxima dos nossos cbapeus<br />
femininos do que das nossas cidades: adorno monumental que<br />
preserva um pouco da vida dos areos e das folhagens, cuja<br />
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