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o. LEVI-STRAUSS<br />
das venezianas e a irradla~ao do solo purpura. Ja com as<br />
primeiras habita!:Oes, que parecem mercados cobertos por suas<br />
fachadas perfuradas de grandes janelas sem vidros e quase<br />
sempre escancaradas, com~m os campos de capim duro,<br />
roido pelo gado ate it raiz. Em previsao da feira, OS organizadores<br />
arranjaram uma provisao de forragem: feixes de<br />
cana de a~l1car ou palmeiras tenras, comprimidos por meio<br />
de ramos e de cip6. Os visitantes acampam nos intervalos<br />
d~ses blocos cl1bicos, com OS seus carros de rodas cheias,<br />
com pregos em t6da a volta. Paredes de vime novo, cobertura<br />
de couro de boi sustentada por cordas, forneceram, durante<br />
a viagem, urn abrigo aqui completado por urn anteparo<br />
de palmeira, ou uma tenda de algodao branco prolongando a<br />
retaguarda do carro. Cozinham-se ao ar livre 0 arroz, 0 feijao<br />
pr~to e a carne seea; as crian~s nuas correm entre as<br />
patas dos bois que mastigam as canas cujas hastes flexiveis<br />
caem fora das suas b6cas, como verdejantes repuxos.<br />
Alguns dias mais tarde, todo 0 mundo partiu; os viajantes<br />
foram reabsorvidos pela mata; 0 POU80 dorme ao sol;<br />
durante um ano, a vida do interior se reduzirA A anima.;ao<br />
hebdomadaria das vilas de domingo, fechadas t6da a semana;<br />
os cavaleiros af se encontram aos domingos, numa encruzilhada,<br />
onde se Instalaram um bar e algumas cabanas.<br />
I<br />
ZONA<br />
XIII",<br />
PIONEIR.A\<br />
~<br />
Cenas desse tipo, 0 interior do Brasil as reproduz ao<br />
infinito, quando nosafastamos da costa para 0 norte ou para<br />
o oeste, onde a mata se alonga ate aos charcos do Paraguai<br />
ou it floresta-galeria dos tributarios do Amazonas. As vilas<br />
se tornam raras, e mais vastos os espa~s que as separam:<br />
ora desimpedidos, e e 0 campo limpo ..· ora encapoeirados, chamados<br />
enUio campo 8UjO, ou ainda cerrado e caatinga.<br />
Na dir~ao sUI, a do Estado do Parana, 0 afastamento<br />
progressivo do tr6pico, a eleva~ao das terras e a origem vuldiolea<br />
do sUbsolo, sao, a tftulos diversos, responsAveis por outras<br />
paisagens e por outras formas de vida. Af se encontram,<br />
lado a lado, restos de popula!:Oes indigenas ainda pr6ximos<br />
dos centros eivilizados e as formas mais modernas da coloniza!:Ro<br />
interior. Foi a essa zona do norte do ParanA que<br />
dirigi as minhas primeiras excursOes.<br />
Bastavam quase que s6 24 horas para alcan~ar, aJem da<br />
fronteira do Estado de 8ao Paulo, marcada pelo rio Parana,<br />
a grande floresta temperada e umida de coniferas, que por<br />
tanto tempo opOs a sua massa it penetra~ao dos fazendeiros;<br />
ate por volta de 1930 ela continuava pritticamente virgem,<br />
com exc~o dos bandos indigenas que ainda erravam por<br />
ali, e de alguns pioneiros isolados, em geral colonos pobres,<br />
cultivando 0 milho em pequenas queimadas.<br />
No momento em que cheguel ao Brasil, a regiao estava<br />
sendo aberta, principalmente sob a influencia de uma empresa<br />
britaniea que obtivera do governo a concessao iuielal de urn<br />
milhao '€ meio de hectares, com 0 compromisso de con.struir<br />
estradas de ferro e de rodagem. Os ingleses se propunham<br />
a revender 0 territ6rio em lotes a imigrantes. provenientes<br />
sobretudo da Europa central e oriental, e a conservar a propriedade<br />
da estrada de ferro cujo trMego seria garantido<br />
pela produ