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C. LEVI-STRAUSS<br />
rio, enquanto urn urubu navega durante dias silbre 0 cadaver<br />
e d~le se alimenta.<br />
Quando os bois se restabelecerem, a tropa voltara ate<br />
Utiariti, sem dificuldade, segundo pensamos, ja que os ani~<br />
mais estarao livres da sua carga e que as chuvas, agora<br />
iminentes, transformarao 0 deserto em pastagem. Enfim, 0<br />
pessoal cientifico da expedi!%o e os 11ltimos homens se encarregariio<br />
das bagagens, que comboiarao de canoa ate as re~<br />
gioes habitadas, oude nos dispersaremos. Eu pr6prio pretendo<br />
passar para a Bolivia pela Madeira, atravessar 0 pais<br />
de aviiio, voltar ao Brasil por CorumM e de la alcan~ar<br />
Cuiaba, depois Utiariti, por volta do m~s de dezembro, oude<br />
encontrarei a minha comitiva, homens e animais, para liquidar<br />
a expedi!%o.<br />
o chefe do pilsto de Melga~o nos empresta pequenas<br />
canoas - barcos leves de tAbuas - e remadores. Adens burros!<br />
Nada temos a fazer senao deixar-nos resvalar ao longo<br />
do Rio Machado. De novo descuidados devido aos meses de<br />
seea, deixamos, na primeira noite, de guardar as nassas r~des,<br />
eontentando-nos com suspend~-las entre as arvores da margem.<br />
A. trovoada estoura em plena noite com 0 barulho de urn<br />
cavalo a galope; antes mesmo de acordarmos, as redes se<br />
transformam em banheiras; desdobramos As apalpadelas urn<br />
tOldo para nos servir de abrigo, sem que seja possivel estende-Io<br />
debaixo d~sse dill1vio. Nem se pensa em dormir; acocorados<br />
na agua e sustentando a lona nas cab~as, e preciso vigiar constantemente<br />
os bolsos que se enchem e esvazhi-Ios antes que a<br />
aglla penetre. Para matar 0 tempo, os homens contam hist6<br />
rias: guardei a que fol narrada por Emidio.<br />
Hi8t6ria de<br />
Emidio.<br />
Um 'lJiuoo tinha um unico lilho, adole8cente. Um dia<br />
chama-o, ercplwa-lhe que jli e tempo de 8e casar. "Que e pre<br />
Gisa fazer para casar?" pergunta 0 filho. "E muito simples,<br />
diz-lhe 0 pai, voce s6 tem que visitar os vizinhos e tratar de<br />
agradar a filha dl3les". "Mas eu niio sei como se agrada a<br />
uma mora!" "Ora, toque vioUio, seja alegre, ria, cantel" 0<br />
tilha segue 0 conselho, chega no rrwmento em que 0 pai da mora<br />
acaba de morrer,o sua atitude e considerada indecente, tocamno<br />
a pedradas. £le volta para junto do pai e queia:a-se; 0<br />
pal lhe e:JIplwa a conduta a 8egulr em ca808 sernelhante8. 0<br />
I<br />
~STES<br />
TB6PICOS<br />
filho volta de novo acasa dos vizinhos; justamente, estao matando<br />
um porco. Mas fiel Ii ultima lirao, me solUQa: 'lQue tristeza!<br />
fiJle era tiio bom! N68 g08tlivam08 tanto dele! Nunca mai8 cncontraremos<br />
ninguem melhor!" Ewasperados, as vizinhos 0 ewpulsam;<br />
me conta ao pai essa nova desventura e dele recebe indicayoes<br />
s6bre a conduta apropriada. Na sua terceira visita,<br />
08 'lJizinhos e8tao ocupad08 ern matar a8 lagartas da horta.<br />
Sempre atrasado de uma liriio, 0 j01Jem ewclama: "Que maravilh08a<br />
abundl1rwia! De8ejo que e88es animai8 8e multipliquern<br />
em V088as terras! Que jamais haja lalta dele8!" Tocam-no.<br />
De p "!8 de8se terceiro ma16gro, 0 pai ordena M tilho a<br />
constrU!'ao de uma cabana. fiJle vai It llore8ta para derrubar<br />
a madeira necessaria. 0 lobisomem passa par Id durante a<br />
noite, acha 0 lugar a seu g6sto para af. c0'n8truir a Sua casa<br />
e poe-se ao trabalho. Na manha seguinte, 0 mooo volta d<br />
derrubada e eneontra 0 se~o adiantado: "Deus me ajudaf"<br />
pensa Com satisfflJJao. AS8im constroem os dois ao mesmo<br />
tempo, 0 mOQo durante 0 dia e a lobisomem durante a noite.<br />
A cabana lica pronta.<br />
Para inaugura-la, 0 nwQo decide oferecer-se uma refeir;Jio<br />
de veado, e 0 lobi80rnem uma de marto. Um traz 0 veado<br />
durante 0 dia, 0 QUtro 0 cadaver com a ajuda da noite. E<br />
quando 0 pai chega no dia seguinte para participar do testim,<br />
v~ s6b~e a mesa um morto d gUisa de assado: "Decididamente,<br />
meu ft-lho, vocl3 nunea prestara para nada ..• "<br />
No dia seguinte, continuava a chover e chegamos ao~<br />
de timenta Bueno esvaziando a agua das barcas. :€ste pilsto<br />
esta situado na confluencia do rio que Ihe da 0 nome e do<br />
Rio Machado. Compreendia umas vinte pessoas; alguns brancos<br />
do interior, e indios de diversas extra~es que trabalhavam<br />
na manuten~iio da Iinha: Cabichiana do vale do Guapore,<br />
_e Tupi-Cavaiba do Rio Machaao:' F'ornecer-me-iam importantes<br />
informa~oes. Umas se referTam aos Tupi-Cavafba ainda<br />
selvagens que, a julgar por antigos relat6rios, teriam desapa<br />
.,teQid.o comPletamente j aind? voltarei ao assunto. Outras erarl[<br />
relatIvas a uma tribo desconhecida que vivia dizi - 'v r- ,<br />
sos laS de PIrog,a pe 0 Rio Pimen ueno. Formulei imediatamente<br />
0 projeto de reconhece-Ios, mas como? Vma circunstancia<br />
favoravel se apresentou; de passagem pelo pOsto<br />
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I II<br />
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