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114 O. LEVI-STRAUSS<br />
TBISTES TB6PICOS 115<br />
mundo todo, portos de escala outrora celebres; podemos indagar<br />
se a avlac;ao, convidando-nos a brincar de sela s6bre as<br />
etapas antigas, DaD vai desempenhar 0 mesrna papel. Afinal,<br />
e licito esperar que 0 progresso mecanico arranque de si<br />
meSilla esse resgate em que reside nossa esperan~a: obrigando-o<br />
a dar urn tr6co mil1do de solidao e de esquecimento em<br />
troca da intimidade de cujo g6zo nos priva maci!:llmente.<br />
Numa escala reduzida, 0 interior do Estado de Sao Paulo<br />
e as regiOes vizinhas ilustravam essas transforma~es. Sem<br />
dt.ivida, ja DaD havia mais tra~o daquelas cidades-fortalezas,<br />
por euja estabelecimento se garantia Qutrora a posse de<br />
uma provincia e que se encontram na origem de tantas<br />
cidades brasiIeiras da costa au dos rios: Rio de Janeiro,<br />
Vit6ria, Florian6polis em sua ilha, Bahia e Fortaleza no<br />
cabo; Manaus, obidos As margens do Amazonas; ou ainda<br />
Vila-Bela de Mato Grosso, cujas ruinas peribdicamente invadidas<br />
pelos fndios nhambiquara subsistem perto de Guapore:<br />
outrora guarni~ao famosa dum capitao de mato na<br />
fronteira boliviana, isto e, s6bre a pr6pria linha que 0 papa<br />
Alexandre VI tinha simbolicamente tra!:lldo em 1493 atraves<br />
do Novo Mundo ainda desconhecido, para repartir as cobi~as<br />
rivais das coroas de Espanha e de Portugal<br />
Para 0 norte e para leste, encontravam~se algumas cidades<br />
'mineiras hoje desertas, cujos mODumentos arruinados<br />
- igrejas dum barroco florescente do seculo XVIII - contrastavam<br />
por sua suntuosidade com a deso1a~ao circundante.<br />
Cheias de vida enquanto as minas eram exploradas, agora<br />
Ietargicas, pareciam ter-se aplicado em reter em eada vazio<br />
e em cada dobra de suas colunatas helicoidais, de sens frontOes<br />
de volutas e de suas esbUuas pregueadas, parcelas dessa<br />
riqueza que engendrara a sua rufna: a explorac;ao do subsolo<br />
se pagava com a devasta~ao dos campos, sobretudo das<br />
florestas cuja madeira alimentava as caldeiras. As cidades<br />
mineiras se extinguiram por si mesmas, depois de haver esgotado<br />
a sua substAncia, como 0 in~ndio.<br />
o Estado de Sao Paulo evoca tamMm outros acontecimentos:<br />
a luta que, desde 0 .eculo XVI, op6s os jesuftas<br />
aos fazendeiros, eada qual defendendo uma forma diferente<br />
de povoamento. Com as redu~es, os primeiros queriam arranear<br />
os indfgenas Ii vida selvagem e reunf-Ios sob sua<br />
direc;ao num genero de vida comunal. Em certas regiBes<br />
recuadas do Estado, reconhecem-se essas primeiras vilas<br />
brasileiras por seus nomes<br />
de aldeias ou de<br />
missoes, e melbor ainda<br />
por seu plano amplo<br />
e fnllcional: igreja no<br />
centro, dominando uma<br />
pra~a retangular de<br />
terra batida, invadida<br />
pelo capim, 0 largo da<br />
matriz, e rodeada de<br />
ruas que se cortam em<br />
Angulo reto, circundadas<br />
de casas baixas<br />
substituindo as cabanas<br />
indigenas de outrora.<br />
Os plantadores, fazendeiro8,<br />
tinham inveja<br />
do poder temporal das<br />
miss5es que entravava<br />
suas exa!:Oes e tamMm<br />
os privava da mao de<br />
obra servil. Lan@.vam<br />
FIG. 2 - Calvario rU8tico,<br />
no interior do Estado de<br />
sao Paulo, ornamentado<br />
por objetos div6rs08 que<br />
representam os instrumentos<br />
da Paixiio.<br />
Hes expedi~Bes punitivas<br />
em consequencia<br />
das quais<br />
padres e indigenas<br />
debandavam. Assim<br />
se explica esse tra<br />
~o singular da demografia<br />
brasileira,<br />
que a vida das vilas,<br />
herdeira das<br />
aldeias, se tenha<br />
mantlQO nas regioes<br />
mais pobres, enquanto<br />
nos outros<br />
lugares, onde uma<br />
terra rica era fe~<br />
rozmente ambicionada,<br />
a populac;;ao<br />
nao tivesse outro remMio<br />
senao 0 de<br />
se agrupar em tOrno<br />
da casa do senhor,<br />
em casebres de<br />
palha ou de pau a<br />
pique, todos iguais,<br />
e nos quais 0 proprietiirio<br />
podia manter<br />
de olho os seus<br />
colonos. Ainda hoje,<br />
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