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112 O. LEVI-STRAUSS TBXSTES Tx6P100S 113<br />
de ouropeis e prodigiosamente embriagados, desafiavam-se, ao<br />
som de urn tambor, em duelos de can~oes satiricas. Ravia<br />
tambem as crenf:3.s e as superstigOes de que seria interessante<br />
fazer 0 mapa: cura do ter~ol pela imposi\;lio de um anel de<br />
Duro' divisao de tod08 os alimentos em dais grupos incompa·<br />
tivei~: comida quente, comida tria. E outras associa4j)es mah~ficas:<br />
peixe e carne, manga com bebida alc06lica ou banana<br />
com leite.<br />
Entretanto, no interior do Estado, era ainda mais apaixonante<br />
deter-se, DaD nos vestigios de tradi0es mediterrAneas,<br />
mas nas formas singulares favorecidas por uma sociedade em<br />
gesta~iio. 0 assunto era 0 mesma, tratava-se sempre do passada<br />
e do presente, mas, ao contrario do inquerito etnografico<br />
de tipo chlssico, que procura explicar este por 'aquele,<br />
era aqui 0 presente fluido que parecia reconstituir etapas<br />
muito antigas da evolui;ao europeia. Como ao tempo da Fran<br />
~a merovingia, via-se naseer a vida comunal e urbana num<br />
campo de latifl1ndios. As aglomeral))es que surgiam nao eram<br />
como as cidades de hoje - tao gastas que se torna dificil<br />
descobrir a marea da sua hist6ria particular -<br />
confundidas<br />
Duma forma cada vez mais homogenea em que sbmente se<br />
afirmam as distin~es administrativas. Ao contrario, podiamse<br />
escrutar as cidades como urn botllnico as plantas, reconheeendo<br />
pelo nome, aspecto e estrutura de eada uma sua proveniencia<br />
de tal ou tal grande familia de urn reino aerescido<br />
pelo homem a natureza: ° reino urbano.<br />
Durante os seculos XIX e XX, a linha movedi~ da franja<br />
pioneira se deslocou lentamente de leste para oeste e do sui<br />
I para 0 norte. Por volta de 1836, somente 0 Norte, isto e,<br />
a regiao entre 0 Rio e Sao Paulo, estava solWamente ocupada,<br />
e 0 movimento alcan~ava a zona central do Estado. Vinte<br />
anos roais tarde, a eoloniza~o mordia a nordeste, com a<br />
Mogiana e a Paulista; em 1886, ela alcani;ava Araraquara,<br />
a Alta Sorocabana e a Noroeste. Nestas ultimas zonas, em 1935<br />
ainda, a eurva de crescimento da popula~ao acompanhava a<br />
da produ~ao de cafe, enquanto que, nas velhas terras do<br />
Norte, a derrocada de uma antecipava de meio seculo 0 declinio<br />
da outra: a queda demografica com~a a se fazer sentir a<br />
partir de 1920, enquanto que, desde 1854, as terras esgotadas<br />
caiam no abandono.<br />
J!:sse ciclo de utiliza\;lio do espa~o correspondia a uma<br />
evolu\;lio hist6rica cuja marca era igualmente transit6ria. 11:<br />
somente nas grandes cWades da costa - Rio e Sao Paulo <br />
que a e.'tpansao urbana parecia ter uma base suficientemente<br />
s6lida para parecer irreversfvel: Sao Paulo contava 240.000<br />
habitantes em 1900, 580.000 em 1920, passava 0 milhao em<br />
1928 e 0 dobra em nossos dias. Mas, no interior, as especies<br />
urbanas nasciam e desapareciam; ao mesmo tempo eJP" que<br />
ela se povoava, 0 interior se despovoava. Deslocando-se de<br />
urn ponto para outro, sem nunca aumentar, os habitantes mudavam<br />
de tipo social, e a observa~ao lado a lado de cidades f6sseis<br />
e de cidades embriomlrias permitia, no plano humano e em<br />
limites temporais extremamente curtos, 0 estudo de transforma~5es<br />
tao impressionantesquanto as do paleont610go comparando<br />
ao longo das camadas geol6gicas as fases, estendidas<br />
em milh5es de seculos, da evolu~ao dos seres organizados.<br />
Desde que se deixava a costa, era preciso nao perder de<br />
vista que, M urn seculo, 0 Brasil se transformara mais do<br />
que se desenvolvera.<br />
Na epoca imperial, a implantai;ao humana era fraca, mas<br />
relativamente bem distribufda. Se as cidades litorlineas ou<br />
vizinhas permaneciam pequenas, as do interior tinbam uma<br />
vitalidade maior que hoje. Por urn paradoxo hist6rico que<br />
se tende, com demasiada freqiiencia, a esquecer, a insuficif~ncia<br />
geral dos meios de comuniea~ao favorecia os piores;<br />
quando nao se tinha outro recurso senao ° de andar a cavalo,<br />
era mellor a relutAncia em prolongar tais viagells durante<br />
meses, mais que dias ou semanas, e em seguir por lugares<br />
em que somente 0 burro podia penetrar. 0 interior do Brasil<br />
vivia solidariamente duma Vida, lenta sem dl1vida, mas continua;<br />
navegava-se em datas fixas, pelos rios, em pequenas<br />
etapas que se eneompridavam por meses; e pistas completamente<br />
esquecidas em 1935, como a de Cuiaba e Goias, serviam<br />
ainda a urn trafieo intenso de caravanas contando eada uma<br />
50 a 200 mulas, cern anos antes.<br />
Se se excetuam as regi5es mais afastadas, 0 abandono nO<br />
qual cafra 0 Brasil central no com~o do seculo XX nao refletia<br />
de forma nenhuma uma sitUfti;ao primitiva: era 0 pr~<br />
pago pela intensifica~ao do povoamento e das trocas nas regi5es<br />
eosteiras, em conseqii~ncia das condi~es de vida moderna<br />
que af se instauravam; enquanto que 0 interior, onde 0 progresso<br />
era diffcil demais, regressava em lugar de acompanhar<br />
o movimento no ritmo moderado que lhe pertencia. Assim,<br />
a navega~ao a vapor, que dimlnui os trajetos, matou, pelo<br />
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