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Tlmpl<br />

300<br />

C. LEVI-STRAUSS<br />

TBISTES TROPICOS<br />

301<br />

"<br />

Reciprocamente, OS filhos rodeiam a mae de uma ternura<br />

inquieta e exigente; cuidam de que receba a sua parte dos<br />

produtos da ca~a. A crian~a vive primeiro ao lado aa mae.<br />

Em viagem, eIa carrega-a ate que possa caminhar; mais tarde,<br />

auda ao sen lado. Fica com ela no acampamento ou na aldeia<br />

enquanto 0 pai vai ca~r. Entretanto, ao cabo de alguns auos,<br />

devem-se distinguir os sexos. Um pai manifesta mais interesse<br />

com rela~ao ao filho que a filha, ja que the deve ensinar<br />

as tecnicas masculinas; e a meSilla coisa acontece nas rela~es<br />

entre a mae e a filha. Mas as rela~oes do pai com os filhos<br />

demonstram a mesma ternura e a meSilla solicitude que ja<br />

acentuei. 0 pai passeia com 0 filho, carregando-o nos ombros;<br />

confecciona armas na medida do seu bracinho.<br />

:E igualmente 0 pai quem conta aos filhos os mitos tradidonais,<br />

transpondo-os num estilo mais compreensivel para os<br />

pequenos: "Todo 0 mundo morreu! Nao havia mais ninguem!<br />

Nenhum hornem! Nada!" Assim com~a a versao infantil da<br />

lenda suI-americana do dihivio a que se liga a destrui~ao da<br />

primeira humanidade.<br />

Em caso de casamento poligamo, relat3€s particulares<br />

existem entre os fUhos do primeiro leito e as jovens madrastas.<br />

Estas vivem com eles numa camaradagem que se estende a<br />

tOdas as jovens do grupo. Por mais restrito que seja este<br />

ultimo, pode-se ainda assim distinguir ntHe uma sociedade<br />

de meninas e de m~as que tomam banhos coletivos de rio,<br />

vao em grupo ao mato para satisfazer suas necessidades naturais,<br />

fumam juntas, gracejam e entregam-se a brincadeiras<br />

de Urn g6sto duvidoso, como trocar grandes cusparadas no<br />

rosto. Essas rela~oes sao 'estreitas, apreciadas, mas sem cortesia,<br />

como as que podem ter as rapazes em nossa sociedade.<br />

Raramente implicam servi~os ou aten~es; mas provocam<br />

uma conseqliencia bastante curiosa: e que as meninas se tornam<br />

independentes muHo mais depressa do que os rapazes.<br />

Elas acompanham as jovens senhoras, participam de sua atividade,<br />

enquanto as meninos, abandonados a si mesmos, tentam<br />

tlmidamente formar bandos do mesmo tipo, mas sem<br />

grande resultado e preferem permanecer, pelo menos na sua<br />

primeira infAncia, junto das maes.<br />

Os pequenos Khambiquara ignoram os jogos. As vezes,<br />

confeccionam objetos de palha enrolada ou tran~da, mas uao<br />

conhecem outra distra~ao senao as lutas ou as pe~as que se<br />

pregam mutuamente, e levam uma existencia calcada s6bre<br />

ados adultos. As meninas aprendem a fiar, vagabundeiam,<br />

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riem e dormem; os meninos com~am mais tarde a atirar com<br />

pequenos arcos ease iniciar nos trabalhos. masculinos (a~~ 8<br />

ou 10 anos). Mas uns e outros tomam rapldamente conSClencia<br />

do problema fundamental e por vezes tragico da vida<br />

nhambiquara, 0 da alimenta~ao, e do papel ativo que se espera<br />

d'Hes. Colaboram nas expedi~oes de colheita e de cata com<br />

muito entusiasmo. Em periodo de fome, nao e raro ve-Ios<br />

procurar sua alimenta~ao em Wrno do acarnpamento, ~xercitando-se<br />

em desenterrar raizes, ou caminhando no capIll, ua<br />

ponta dos pes, com urn grande ramo desfolhado na mao: para<br />

derrubar gafanhotos. As meninas conhecem a parte atrIbufda<br />

as mulheres, na vida economica da tribo, e mostram-se impacientes<br />

por se tornar dignas dela.<br />

Assim, encontro uma delas que passeia carinhosamente<br />

com um cachorrinho na faixa de carregamento que a mae usa<br />

para a sua irmazinha, e observo: "Acaricias teu cachorrinho?':<br />

Ela responde gravemente: "Quando eu for grande, matarel<br />

os porcos selvagens, os maeacos; todos eu matarei quando<br />

ele latir!"<br />

Ela comete, alias, urn erro de gramatica que 0 pai assinala<br />

rindo: devia dizer tilondage, "quando eu f6r grande",<br />

em Iugar do masculino ihondage, que ela empregou. 0 erro<br />

e interessante porque ilustra urn desejo feminino de elevar<br />

as atividades econ6micas espectais desse sexo ao nivel das que<br />

sao 0 priviIegio dos homens. Como 0 sentido exato do termo<br />

empregado pela menina e "matar com uma cacetada de tacape<br />

on de porrete" (aqui, 0 bastao de escavar), parece que el~<br />

tenta inconscientemente identificar a coleta e a cata femlninas<br />

(limitadas a captura de pequenos animais) com a ca~<br />

masculina, servida por arco e flechas.<br />

:E preciso pOr em evidencia as rela~es entre essas crian­<br />

(73.S que estao na categoria de primos prescrita para se chamarem<br />

mutuamente "espOso" e "esp&sa". Por vezes, comportam-se<br />

como verdadeiros c6njuges: deixam a noite 0 lar familial<br />

transportando ti~es para um canto do acampamento<br />

onde 'acendem a sua fogueira. Depois do que se instalam e<br />

se entregam, na medida dos seus meios, as mesmas e=-:pans.oes<br />

dos adultos; quaI)to a estes, lan~am a cena urn olhar dlvertldo.<br />

Nao posso deixar as crian~s sem dizer uma palavra dos<br />

animais domesticos que vivem em rela~ao muito intima com<br />

elas e sao, tambem, tratados como crian~as: participam das<br />

refei~es, recebem as mesmas demonstra~oes de cari~ho e de<br />

interesse - espiolhamento, brinquedos, conversa, carmhos -<br />

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