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298 C. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PICOS 299<br />
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pois 0 trabalho continua, ap6s uma troca de comeutarios s&bre<br />
llsse importante acontecimento.<br />
As crian~as vadiam grande parte do dia, as meninas entregam-se,<br />
por momentos, As mesmas tarefas que as mais velhas,<br />
os meninos ficam ociosos, on pescam a margem dos cursos<br />
dagua. Os homens que ficaram no acampamento dedicam-se<br />
a trabalhos de cestaria, fabricain f1echas e instrumentos de<br />
musica e prestam as vllzes pequenos servi(;OS domesticos. 0<br />
ac6rdo reina geralmente entre os casais. Pelas 3 ou 4 horas,<br />
os outros homens retornam da ca~, 0 acampamento se anima,<br />
as eonversas se tornam mais vivas, grupos se formam, diferentes<br />
das aglomera~es familiais. Cornem-se beijus de mandioca<br />
e tudo 0 que se encontrou durante 0 dia. Quando cai<br />
a Doite, algumas mUlheres, diAriamente escolhidas, VaG catar<br />
on cortar, na mata vizinha, a provisao de lenha para a noUe.<br />
Adivinha-se 0 sen retorno, no crepu.sculo, tro~ando sob 0<br />
fardo que estica a faixa que sustem 0 carregamento. Para<br />
descarregar, acocoram-se e inclinam-se urn IX>UCO para tras,<br />
deixando posar 0 cesto de bambu no chao, a fim de livrar a<br />
testa da faixa.<br />
Num canto do acampamento, os ramos sao amontoados e<br />
eada urn a[ se abastece na medlda de suas necessidades. Os<br />
grupos familiais se reconstituem em tarno de suas fogueiras<br />
respectivas, que com~m a brilhar. 0 sarau passa-se em<br />
conversas, ou ainda em cantos e dan~s. Por vezes essas<br />
distra~oes se prolongam ate multo tarde, mas em gera~ depois<br />
de algumas partidas de earicias e de lutas simuladas, os casais<br />
se unem mais estreitamente, as maes apertam contra 0 peito<br />
os filhos adormecidos, tudo se torna silencioso, e a noite fria<br />
e animada apenas pelo crepitar da lenha, 0 passo leve de urn<br />
que traz mais lenha, os uivos dos caes ou 0 choro de uma<br />
crian~a.<br />
Os Nhambiquara tllm poucos fiihos: como eu devia notar<br />
em seguida, os casais sem filhos nao sao raros, uma ou duas<br />
crian~as parecem 0 ntimero normal, e e excepcional encontrar<br />
mais de tres numa familia. As rela~es sexuais entre os pais<br />
sao interditas ate que 0 ultimo nascido esteja desmamado,<br />
isto e, freqiientemente ate ao terceiro ano. A mae mantem<br />
a filho a cavalo sabre a coxa, sustentado por uma larga faixa<br />
de embira ou de algodao; alem do cesto, ser-Ihe-ia impossivel<br />
carregar outra crianf:a. As exigencias da vida namade, a<br />
pobreza do meio, imp5em aoo indigenas uma grande prudencia;<br />
quando e preciso, as mulheres nao hesitam em recorrer a<br />
meios meca.nicos ou a plantas medicinais para provocar 0<br />
aMrto.<br />
Todavia, os indigenas tern para com os filhos e manifestam-Ihes<br />
uma afei~ao muito viva, e sao retribuidos, sentimentos<br />
esses as vezes velados pelo nervosismo e instabilidade<br />
de que testemunham. Urn menino tern indigestao; doelhe<br />
a cab€f;3., vomita, passa a metade do tempo a gemer e a<br />
outra a dormir. Ninguem Ihe presta a menor aten!:iio e deixam-DO<br />
s6 urn dia inteiro. Quando chega a noite, a mae se<br />
aproxima, cata-o carinhosamente enquanto adormece, faz sinal<br />
aos outros que nao se aproximem e arruma-Ihe entre os bra~s<br />
uma especie de ber~o.<br />
Ou entao, e uma jovem mae que brinca com 0 pequenino,<br />
dando-Ihe pequenos tapas nas costas; esse pOe-se a rir e ela<br />
se anima de tal maneira no brinquedo que bate cada vez<br />
mais forte, ate fazi!-Io ehorar. Entao, para e 0 consola.<br />
Vi a pequena 6rfii de que falei Iiteralmente pisada durante<br />
urn baile; na excita~ao geral, ela caira sem que ninguem<br />
notasse.<br />
Quando sao contrariadas, as crian~as batem facilmente<br />
nas maes, e estas nao reagem. As crian~s nao sao punidas,<br />
e jamais vi alguem bater em alguma deJas, nem mesmo esbO!:l1r<br />
o gesto, salvo por brincadeira. Algumas vezes, uma crian~a<br />
chora porque se machucou, brigou ou tern fome, ou porque<br />
nao quer que a catem. Mas este ultimo caso e raro: a espio<br />
Ihamento parece encantar 0 paeiente tanto quanta distrai 0<br />
autor; e tida, tambern, como uma marca de interesse e de<br />
afei!;ao. Quando quer que a catem, a crian~ - ou 0 marido<br />
- pOem a cabe~a nos joelhos da mulher, apresentando sucessivamente<br />
os dois lados da cabe~a. A operadora procede dividindo<br />
a cabeleira em raias ou olhando as mechas por trans~<br />
parllncia. 0 piolho pegado e imediatamente comido. A crian~a<br />
que chora e consolada por urn membro da familia ou por uma<br />
crian~a maior.<br />
Assim, 0 espetaculo de uma mae com 0 filho e cheio de<br />
alegria e frescor. A mae mostra urn objeto ao filho atraves da<br />
palha do abrigo e retira-o no momento em que ele pensa<br />
pega-Io: "Pega pela frente! pega por tras!" Ou entao ela<br />
segura a crian~a e, com grandes risos, finge joga-Ia no chao:<br />
andam nom tebu, vou te jogar! nihui, responde 0 pequeno com<br />
uma voz superaguda: nao quero!<br />
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