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428 C. LEVI-STRAUSS<br />

TBISTES TB6PICOS 429<br />

diretos: este tridente vermelho e Eisses pHares de pedra encostados<br />

aD troneD intestinal de urn "Banyan", e Civa; este<br />

altar avermelhado, Laksmi; esta arvore em cujos ramas esta()<br />

penduradas numerosas oferendas: seixos e peda~os de pano,<br />

e habitada por Ramakrishna, que cura as mulheres estereis;<br />

e sob este altar florido, vela 0 deus do amor, Krishna.<br />

...'\. essa arte religiosa de pacotilha mas incrivelmente vivaz~<br />

os mu~ulmanos op5em 0 seu pintar l1nico e oficial: Chagtai,<br />

urn aquarelista ingles que se inspira das miniaturas "rajput".<br />

Par que a arte mu~ulmana desmorona tao completamente desde<br />

que deixou de estar em seu 'apogeu? Ela passa sem transi~ao<br />

do palacio ao bazar. Nao e uma conseqliencia do repudio das<br />

imagens? 0 artista, privado de todD cantato com 0 real,<br />

perpetua uma conven~ao a tal ponto exangue que jii nao pode<br />

ser rejuvenescida ou fecundada. E sustida pelo Duro, ou se<br />

desmancha. Em Lahore, 0 erudito que me acompanha s6 manifesta<br />

desprezo pelos afrescos "sikh" que ornam 0 forte: ToO'<br />

slwwy, no colour scheme, too crowded/ e, s~m duvida, isso esta<br />

longe do fantastico filrro de espelhos do Shish Mahal, que<br />

cintila como urn ceu estrelado; mas, como tao freqlientemente<br />

ocorre na india contemporllnea em face do Islam, e vUlgar,<br />

ostentoso, popular e encantador.<br />

Exceto os fortes, os mu~ulmanos s6 construiram na india<br />

templos e tlimulos. Mas os fortes eram palacios habitados,<br />

enquanto os tumulos e os templos sao palacios desocnpados.<br />

Sente-se, ainda aqui, a dificuldade para 0 Islam de imaginar<br />

a solidao. Para ele, a vida e, antes de mais nada, comunidade,<br />

e 0 morto sempre se instala no quadro de uma comunidade,<br />

desprovida de participantes.<br />

Ha um contraste impressionante entre 0 esplendor dos<br />

mausoMus, suas vastas dimensoes e a concep('ao acanhada das<br />

pedras tumulares que abrigam. Sao pequenissimos tumulos,<br />

cujos h6spedes devem neles sentir-se apertados. Para que<br />

entao servem essas salas, essas galerias que as rodeiam e de<br />

que apenas os passantes gozam? 0 tumulo europeu e feito<br />

pela medida do seu habitante: 0 mausoleu e raro e e silbre<br />

o pr6prio sepulcro que se exercem a arte e 0 engenho, para<br />

torna-Io suntuoso e confortavel ao jacente.<br />

No Islam, 0 tumulo se divide em urn mausoIeu esplendido,<br />

que nao aproveita ao morto, e uma tumba mesquinha (desdobrada,<br />

alUis, entre urn cenotafio visivel e uma sepultura oculta)<br />

onde 0 morto parece prisioneiro. 0 problema do repouso no<br />

aMm encontra uma solu~ao duas vezes contradit6ria: por<br />

urn lado, conf6rto extravagante e ineficaz, por Dutro, desconforto<br />

real, 0 primeiro trazendo uma compensa~ao ao segundo.<br />

Nao e imagem da civiliza~ao mu~ulmana, que associa os requintes<br />

mais raros: palacios de pedras preciosas, fontes de<br />

agua de rosa, aUmentOB recobertos de f61has de ouro, fumo<br />

mistnrado com perolas pUlverizadas, servindo de capa a rusticidade<br />

dos costumes e a crendice que impregna 0 pensamento<br />

moral e religioso?<br />

Ko plano estetico, 0 puritanismo islamico, renunciando a<br />

,aboUr a sensualidade, contentou-se em reduzi-Ia as suas formas<br />

menores: perfumes, rendas, bordados e jardins. No plano<br />

moral, chocamo-nos contra 0 mesmo equivoco de uma tole·<br />

rancia apregoada apesar de urn proselitismo cujo carater com·<br />

puIs6rio e evidente. Na verdade, 0 contato com os nao-mu­<br />

~ulmanos os angustia. Seu genero de vida provinciana perpetua-se<br />

sob a amea~a de outros generos de vida, mais livres<br />

e mais flexiveis que 0 seu, e que podem aHera-Io pela simples<br />

contigiiwade.<br />

Melhor, alias, do que falar de tolerancia, seria dizer que<br />

essa tolerancia, na medida em que existe, e uma perpetua<br />

vit6ria s6bre si pr6prios. Preconizando-a, 0 Profeta colocou-os<br />

numa situa~ao de crise permanente, que resulta da contradi~ao<br />

entre 0 alcance universal da revela~ao e a admissao da pluralidade<br />

de fes religiosas. Ai se encontra uma situa~ao "paradoxal"<br />

no sentido pavloviano, geradora de ansiedade, por urn<br />

lado, e de complacencia em si mesmo por outro, ja que se<br />

creem capazes, gra~as ao Islam, de superar semelhante conflito.<br />

Em vao, de resto: como observaya urn dia, na minha<br />

frente, urn fil6sofo hindu, os mu~ulmanos vangloriam-se de<br />

professar 0 valor universal dos grandes principios: liberdade,<br />

igualdade, tolerancia; e invalidam 0 credito a que pretendem,<br />

afirmando ao mesmo tempo que sao os dnicos a pratica-Ios.<br />

Urn dia, em Karachi, vi-me em companhia de sabios mu­<br />

~ulmanos, universitarios ou religiosos. Ouvindo-os louvar ~<br />

superioridade do seu sistema, fiquei impressionado em venficar<br />

a insistencia com que voltavam a urn l1nico argumento:<br />

sua simplicidade. A legisla~ao islAmica em materia de heran~a<br />

e melhor que a hindu, porque e mais simples. Deseja-se contornar<br />

a interdi~ao tradicional da usura: basta estabelecer urn<br />

contrato de sociedade entre 0 depositario eo banqueiro, e os juros<br />

se resolvedio numa participa~ao do primeiro nas empresas do<br />

segundo. Quanto a reforma agraria, aplicar-se-a a lei mu­<br />

~ulmana a sucessao das terras araveis ate que estejam sufi-<br />

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