90 o. LEVI-STRAUSS TRISTES TRUPICOS 91 mente por ~sse registro, ai fOssem "interrompidas e revistadas com maior rigor". Os particulares levavam em seguida 0 Duro em barras a Casa da Moeda do Rio de Janeiro que 0 trocava por dinheiro, meios-dobroes valendo 8 piastras espanholas, s6bre cada urn dos quais 0 rei ganhava uma piastra pela liga e 0 privilegio de emissao. E Bougainville acrescenta: "A Casa da Moeda e uma das mais belas que existem; esta munida de tOdas as eomodidades necessarias para trabalhar com a maior celeridade. Como 0 Duro desce das minas ao mesrno tempo em que as frotas chegam de Portugal, e preciso acelerar 0 trabalho da moeda e ela e cunhadacom uma prontidao surpreendente". Quanta aoo diamantes, 0 sistema era ainda mais rigoroso. Os exploradores, conta Bougainville, "sao obrigados a prestar cantas exatas dos diamantes encontrados e a entrega-Ios aD intendente nomeado pelo rei para esse fim. ~sse intendente imediatamente os deposita numa caixa cercada de ferro e fechada a trEis chaves. Uma fica com Eile, outra com 0 vice-rei e a terceira com 0 provedor da Fazenda Real. Essa caixa e fechada numa segunda, em que se colocam os selos das trEis pessoas acima mencionadas, e que contem as trEis chaves da primeira. 0 vice·rei nao tern 0 direito de verificar 0 que ela encerra.~le apenas guarda tudo num terceiro cofre-forte que remete para Lisboa, depois de ter colocado 0 seu s~lo na feehadura. A abertura se faz em presen~a do rei, que escolhe os diamantes que deseja, pagando 0 respectivo pr~ aos vendedores com base em tarifas reguladas por um tratado existente entre as duas partes". Dessa intensa atividade que, apenas no ano de 1762, se exercera para 0 transporte, veriflca~ao, cunhagem e expedi~o de 119 arrobas de ouro, isto e, mais de uma tonelada e meia, nada subsiste ao longo dessas costas devolvidas ao Eden, senao algumas fachadas majestosas e solitarias no fundo de sua enseada, muralhas batidas pelas ondas, ao pe das quais abordavam os gale5es. Essas florestas grandiosas, essas angras virgens, essas rochas escarpadas, gostarfamos de crer que apenas alguns indfgenas descal!:OS af se tivessem deixado escorregar do alto dos planaltos, e nao que tivessem fornecido local para oficinas em que, ha apenas 200 anos, se forjava 0 destino do mundo moderno. Depois de se haver fartado de ouro, 0 mundo teve fome de a~ucar, mas 0 a~ucar tamMm consumia escravos. 0 esgotamento das minas - precedido, de resto, pela devasta!%o das \ florestas que forneciam combustivel as fornalhas - a aboli~ao da escravatura, enfim uma procura mundial crescente, orientam Sao Paulo e seu pi)rto de Santos, para 0 cafe. De amareIo, depois branco, 0 ouro se torna negro. Mas, apesar dessas transforma~oes 'que fizeram de Santos urn dos centros do comercio internacional, 0 sitio conservava uma beleza secreta; enquanto 0 navio penetra lentamente entre as ilhas, sinto aqui () primeiro choque dos tropicos. Urn canal verdejante nos circunda. Esticando a mao, poder-se-ia quase agarrar essas plantas que 0 Rio ainda mantinha it distllncia, em estufas bern altas. !\"uma cena mais modesta, 0 contacto com a paisagem se estabelece. ...-/ o interior de Santos, planicie inundada, crivada de Iagunas e de pantanos, cortada de rios, de estreitos e de canais, ('ujos contornos sao, perpetuamente apagados por uma neblina nacarada, parece a propria Terra emergindo do inicio da eri.a~ao. As bananeiras que a cobrem sao do verde mais jovem e mais delicado que se possa conceber; mais agudo que 0 ouro verde dos campos de juta no delta do Bramaputra, com os quais a minha lembran!:ll gosta de associa-las; mas a pr6pria fragilidade do tom, sua gra~a inquieta comparada it tranqiiila suntuosidade do outro, contribuem para criar urn ambiente primordial. Durante uma meia hora, rodamos entre as bananeiras, plantas mastodontes mais do que arvores nanicas, troncos sehrosos que se terrninarn Dum pululamento de f6Ihas eIasticas acirna de uma mao de cern dedos saindo dum enorme lotus marron e rosa. Depois, a estrada se eleva a 800 metros de altitude, ate ao alto da serra. Como sempre neste litoral, declives abruptos protegerarn dos atentados do hornem uma floresta virgem tao rica que, para encontrar outra semelhante, seria necessario ir muitos quiIometros para 0 norte, perto da bacia amazonica. Enquanto 0 auto geme em curvas que ja nem sequer se podern qualificar de "em cotovelo", a tal ponto sao espiraladas, atraves de uma neblina que imita a alta montanha em outros dimas, tenho tempo de inspecionar as arvores e as plantas arrumadas diante do meu olhar' como especimes de museu. Esta floresta difere da nossa pelo contraste entre a folhagem e os troncos. Aquela e mais sombria, suas tonalidades de verde evocam 0 mineral rnais do que 0 vegetal e no primeiro reino, 0 jade e a turmalina, mais do que a esmeralda e 0 peridoto. Em compensa~ao, os troncos, brancos ou acin- ;m SOJU;)U S l:: Ulnl::.lS >J!S9dOJd ( SI,,·l::UEC ""U""I" n "nb" J"'lr nowo:')'eJ! :oJ W,"P' W;) 'Il::P;)( J,nbj"nb. '!"JU'W "~ 'puolll '( U;)W E:'U;) I 'OJ"J'O' ;):,) OJU;)W UESU! ;}P Sl "P!UOSU! . U!"P o~5 ,0J",d.. SI ,..d 'P"P! nb 'WDJS !dSUl OJU' " 'P"P!UJ; ;}JlO:J SE: ( q,,,,J 'p ( O""P OP" !1:,)E owo; op "!'9J 5"Jowo:
92 O. LEVI-STRAUSS zentados, sllhuetam-se como ossadas no fundo escuro da fo Ihagem. Demasiadamente perta da muralha para considerar o conjunto, en examinava sobretudo os pormenores. Plantas mais copiosas que as da Europa erguem caules e fOlhas que parecem cortadas em metal, tanto 0 sen porte e firme e tanto a sua forma plena parece ao abrlgo das provas do tempo. Vista de fora, essa natureza e de uma ardem diferente da nossa; ela manifesta urn gran superior de presen~a e de permanencia. Como nas paisagens ex6ticas de Henri Rousseau, esses seres alcan~am a dignidade de objetos. Ja urna vez passei pol' impressao amUoga. Foi POI' ocasiaa das rninhas primeiras ferias ua Proven~a, depois de anos votados It Normandia e It Bretanha. A uma vegeta~lio que continuava para mim confusa e sem interesse, sucedia Dntra em que cada especie me oferecia uma significa~ao particular. Era como se en tivesse sido transportado de uma vila banal para urn sitio arqueol6gieo em que eada pedra nao fasse mais urn elemento de edificio, mas urn testemunho. Eu percorria, exaltado, 0 terreno, repetindo-me que aqui eada rarninho se ehamava timo, oregilo, rosmaninho, basilisco, cisto, louro, alfaserna, medronheiro, alcaparra, lentiseo, que possuia suas cartas de nobreza e recebera sua carga privilegiada. E o pesado aroma resinoso era-me ao mesmo tempo prova e razao de urn universo vegetal mais valido. 0 que a flora provenc;al me trazia entao no seu aroma, a do tr6pieo me sugeria agora por sua forma. Kao mais mundo de odores e de usos, herbario de receitas e de supersti~es: mas conjunto vegetal semelhante a urn corpo de grandes dan~rinas das quais -cada uma houvesse imobilizado 0 seu gesto na posi
- Page 3 and 4: Idual. :orporaso t6ria do :omo acri
- Page 5 and 6: 'Tlmpl 1 PARTIDA Odeio as viagens e
- Page 7 and 8: 12 O. LEVI-STRAUSS TRISTES TR6pICOS
- Page 9 and 10: 16 O. LEVI-STRAUSS ) ./ TBISTES TB6
- Page 11 and 12: • 0 t' 'Tlmpl 20 TEcrSTES TB6PICO
- Page 13 and 14: 24 O. LEVI-STRAUSS TBJSTES TR6PICOS
- Page 15 and 16: ·,'CnpI 28 reda~ao dl\ste livro de
- Page 17 and 18: 'rt:npI 32 na imprensa 0 nome desse
- Page 19 and 20: ,"~~~ ,'i' TBISTES TBOPICOS 37 36 t
- Page 21 and 22: Idual. -~ r6ria do :omo acri :ado d
- Page 23 and 24: 'T-enpI 44 O. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 25 and 26: 'TEnpl TBISTES Tu6pIOOS 49 COMO VI
- Page 27 and 28: ·renpI 52 " SfOf{:ando-se por se f
- Page 29 and 30: • ·pmpr o. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 31 and 32: 60 O. LEVI-STRAUSS TB1STES TB6PICOS
- Page 33 and 34: ',"nPl 64 C. LEVI-STRAUSS TRISTES T
- Page 35 and 36: dual. ii: \ L oria do omo acri ado
- Page 37 and 38: .11. 72 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6
- Page 39 and 40: ~. / ·r"npl 76 O. LEVI-STRAUSS TRI
- Page 41 and 42: '·'1' . , I TRlSTES TB6PICOS 81 IX
- Page 43 and 44: 'lEnpI 84 c. LE:VI-sTBAUSS hanas de
- Page 45: 88 O. LEVI-STRAUSS ultima recorda~o
- Page 49 and 50: 'T'CnpI TBISTES TR6PICOR 97 SAO XI
- Page 51 and 52: TlmpI 100 O. LEVI-STRAUSS de algoda
- Page 53 and 54: 104 o. LEVI-STRAUSS TRISTES TB6PICO
- Page 55 and 56: XII CIDADES E CAJlfPOS \ Em Sao Pau
- Page 57 and 58: 1 I , TEnpI 112 O. LEVI-STRAUSS TBX
- Page 59 and 60: 'TlmpI 116 c. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 61 and 62: o. LEVI-STRAUSS das venezianas e a
- Page 63 and 64: C. LEVI-STBAUSS TBXSTES TB6PICOS 12
- Page 65 and 66: 128 o. LEVI-STRAUSS tidas aos habit
- Page 67 and 68: 'TlmpI 132 O. LEVI-STRAUSS TRISTES
- Page 69 and 70: ·r.npl 136 a mesma revolu!:lio pro
- Page 71 and 72: 'r~npI 140 C. LtVI~STBAUSS Nao reiv
- Page 73 and 74: ·I"npl 144 0. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 75 and 76: '["npI 148 C. LEVI~STRAUSS dizer, n
- Page 77 and 78: 'renpl 152 O. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 79 and 80: dual. :orporaF' t6ria do :omoacri a
- Page 81 and 82: 160 ~ C. LEVI-STRAUSS ! e que se cl
- Page 83 and 84: 164 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PICO
- Page 85 and 86: 'renplA 168 C. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 87 and 88: 172 O. LEVI-STRAUSS Uma centena de
- Page 89 and 90: I , 176 C. LEVI-STRAUSS I cebidos n
- Page 91 and 92: 180 C. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PICO
- Page 93 and 94: 184 c. LEVI-STRAUSS TRIaTES TB6Plco
- Page 95 and 96: 188 C. LEVI-STBAl:JSS TRISTES Tx6PI
- Page 97 and 98:
192 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PIOO
- Page 99 and 100:
196 c. LEVI-STRAUSS TRISTES TBOPICO
- Page 101 and 102:
200 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6PIOO
- Page 103 and 104:
1 ) 204 O. LEVI-STUUSB da estrutura
- Page 105 and 106:
XXI o OURO E OS DIAMANTES Diante de
- Page 107 and 108:
·TEnpI 212 C. LEVI-STRAUSS compost
- Page 109 and 110:
216 TBISTES TB6PICOS 217 em caoo de
- Page 111 and 112:
220 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6PICO
- Page 113 and 114:
\ I ·nmpI. I , : ~ ! 224 O. LEVI-S
- Page 115 and 116:
228 C. LEVI-STRAUSS TRISTES TB6PICO
- Page 117 and 118:
232 TBOCSTES TROPICOS 233 em casa,
- Page 119 and 120:
·,-enpl 236 O. LEVI-STRAUSS TRISTE
- Page 121 and 122:
'renpi O. LEVI-STRAUSS tru
- Page 123 and 124:
TEmpi 244 C. LEVI·STRAUSS dade das
- Page 125 and 126:
248 o. LtVI-STBAUSS TBISTES TB6PICO
- Page 127 and 128:
'IOnPI 252 que a noite cai, acende-
- Page 129 and 130:
256 TBISTES 'l'B6PICOS 257 ultimo e
- Page 131 and 132:
f • !, XXIV o MUNDO PERDIDO Uma e
- Page 133 and 134:
264 O. LEVI-STRAUSS TRISTES TR6PICO
- Page 135 and 136:
268 O. LEVI-STRAUSS TBISTES 'l'X6PI
- Page 137 and 138:
°T'Enpl TBISTES TR6PICOS 273 272 O
- Page 139 and 140:
TEnPI 276 C. LEVI-STRAUSS Essa situ
- Page 141 and 142:
'r"opt 280 TBISTES TROPICOS 281 oud
- Page 143 and 144:
I I ! , , II Ii .1 284 Durante a es
- Page 145 and 146:
·T'EnPI . ~ 288 o. LEVI-STRAUSS TB
- Page 147 and 148:
292 C. LEVI-STRAUSS TRISTES TR6PICO
- Page 149 and 150:
TlmpI 296 O. LEVI-STRAUSS ~ I t,
- Page 151 and 152:
Tlmpl 300 C. LEVI-STRAUSS TBISTES T
- Page 153 and 154:
TtmpI 304 O. LEVI-STRAUSS TBISTES T
- Page 155 and 156:
i I I, 308 TBISTES TJWPICOS 309 l'
- Page 157 and 158:
'nmpl i I I [ XXVIII LIQAO DE ESCRI
- Page 159 and 160:
'r,npr I 316 O. LEVI-STRAUSS TBISTE
- Page 161 and 162:
320 o. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6PICO
- Page 163 and 164:
·"nPI TBISTES TR6PICOS 325 XXIX HO
- Page 165 and 166:
[ I : ! 'r"nPI 328 c. LtVI~STRAUSS
- Page 167 and 168:
Tlmpi 332 c. LEVI-STRAUSS TBISTES T
- Page 169 and 170:
336 O. LEVI-STRAUSS tern 0 poder, m
- Page 171 and 172:
·TBnpr ! ! I DE xxx PIROGA En deix
- Page 173 and 174:
344 C. LEVI-STRAUSS rio, enquanto u
- Page 175 and 176:
'TEnpI 348 C. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 177 and 178:
1 I 352 O. LEVI~STR.AUSS TBISTES TI
- Page 179 and 180:
356 o. LEVI-STRAUSS 'l'BIS'I'ES TB.
- Page 181 and 182:
NA XXXII FLORESTA Desde a iufAncia,
- Page 183 and 184:
, 364 C. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6PI
- Page 185 and 186:
368 o. LfVI-STRAUSS ~STES TBOPICOS
- Page 187 and 188:
J 372 pore representem a panta mais
- Page 189 and 190:
374 O. LEVI-STRAUSS TBlSTES TB6PICO
- Page 191 and 192:
·r-enpl 378 C. LEVI-STRAUSS TBISTE
- Page 193 and 194:
382 c. LEVI-STRAUSS TlUSTES TIWPICO
- Page 195 and 196:
'r1:npl \ I TBISTES Tx6PIOOS 387 xx
- Page 197 and 198:
390 c. Li:VI-STBAUsS TRISTES TR6PIC
- Page 199 and 200:
·TtmpI 394 O. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 201 and 202:
ldual. 'II ,:1 , ! t6ria do :omoa c
- Page 203 and 204:
'l"Enpl 402 o. LEVI-STRAUSS TBISTES
- Page 205 and 206:
Tonpi 406 O. LEVI-STRAUSS TBISTES T
- Page 207 and 208:
Tenpr ;1 I i , i I .( I " 'j I '.'
- Page 209 and 210:
414 TBlSTES TB6PIOOS 415 gica ou re
- Page 211 and 212:
,1 418 o. LEVI-STRAUSS TBISTES TB6P
- Page 213 and 214:
422 O. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6PICO
- Page 215 and 216:
426 o. LEVI-STRAUSS TBISTES TR6PICO
- Page 217 and 218:
430 C. LEVI-STRAUSS TBJSTES TB6PICO
- Page 219 and 220:
'l'enpI 434 C. LEVI-STRAUSS TRISTES
- Page 221 and 222:
'T'Enpf 438 C. lEVI-STRAUSS A essa
- Page 223 and 224:
442 O. LEVI-STRAUSS TRISTES TB6PIOO
- Page 225:
Tlmpl. 24 - Dois homens nanbik-wara