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440 C. LEVI-STRAUSS TlUSTES TR6PICOS 441<br />

ha 25 seculos, e 11 qual a minha civiliza\liio s6 podia contri-.<br />

buir para confirma-Ia.<br />

Que mais aprendi, com efeito, dos mestres que olivi, dos<br />

filOOofos que Ii, das sociedades que visitei e meSilla dessa ciencia,<br />

de que 0 Ocidente tira 0 sen c orgulho, senao retalhos de<br />

li~oes que, reunidos, reconstituem a medita~ao do Sabia aD<br />

pe da arvore? Todo esf6r~0 para compreender destr6i 0 objeto<br />

a que nos dedicaramos, em beneficia de Dutro cuja natureza<br />

e diferente; ele reclama de nossa parte urn. novo esf6r~o que<br />

o suprime em proveito de urn terceiro, e assim por diante,<br />

ate chegarmos 11 unica presen~a duravel, que e aquela em<br />

que desaparece a distin~ao entre 0 sentido e a ausencia de<br />

senlido : a mesma de que parliramos. Ha 2.500 anos que os<br />

homens descobriram e formularam essas verdades. Desde<br />

entao, nada encontramos, senao - experimentando, uma depois<br />

da Dutra, t5das as portas de saida - outras tantas demonstra~oes<br />

suplementares da conclusao a que desejariamos escapar.<br />

Sem duvida, tambem percebo os perigos de uma resigna!:ao<br />

demasiado apressada. Essa grande religiao do nao-saber nao<br />

se funda s3bre as nossas deficiencias em compreender. Ela<br />

atesta a nossa aplidao, eleva-nos ate ao ponto onde descobrimos<br />

a verdade sob a forma de uma exclusao mutua do ser<br />

e do conhecer. Por uma audacia suplementar ela foi a uniea<br />

_ com 0 marxismo - a reduzir 0 problema metafisico ao da<br />

eonduta humana. Seu cisma declarou-se no plano socio16gico,<br />

a diferen~a fundamental entre 0 Grande e 0 Pequeno Veiculos<br />

consistindo em saber se a salva~ao de urn s6 depende ou nao<br />

da salva~ao de t6da a humanidade.<br />

Entretanto, as solu~es hist6ricas da moral budista confrontam-se<br />

com uma regeladora alternativa: 0 que respondeu<br />

por uma afirmativa a questao precedente, fecha-se num mosteiro;<br />

0 outro se satisfaz com muito poueo, pela pratica de<br />

uma egoistica virtude.<br />

Mas a injusti~a, a miseria e 0 sofrimento existem; e fornecem<br />

urn termo mediador a essa escolha. Nao estamos sos e<br />

nao depende de n6s permanecer surdos e cegos aos homens,<br />

ou confessar exclusivamente a humanidade em n6s mesmos.<br />

o budismo pode continuar coerente, mesmo aceitando responder<br />

aos chamados de fora. Talvez mesmo, numa vasta regHio<br />

do mundo, tenha e!e encoutrado 0 elo da corrente que faltava.<br />

Porque, se 0 ultimo momento da dialetica que conduz 11 Humina~ao<br />

e valido, entao todos os outros que 0 precedem e se<br />

Ihe assemelharn, tambem 0 saO. A recusa absoluta do sentido<br />

e 0 termo de uma serie de etapas cada uma das quais condu",<br />

de urn senlido menor a urn maior. 0 ultimo passo, que depende<br />

dos outros para Se realizar, da-Ihes retroativamente todo<br />

o valor. A sua maneira, e no seu plano, cada urn corresponde<br />

a uma verdade. Entre a critica marxista, que liberta 0 hornem<br />

das suas primeiras ~adeias - ensinando-lhe que 0 sentido<br />

aparente da sua condi~ao desaparece desde que concorde em<br />

alargar 0 objeto que esta considerando - e a critica budista,<br />

que completa a libera~ao, nao ha contraste nem contradi~ao~<br />

Oada uma faz 0 mesmo que a outra, num nivel diferente. A<br />

passagem entre os dois extremos e garantida por todos os progressos<br />

do conhecimento, que urn movimento de pensamento indissoluvel,<br />

que vai do Oriente ao Ocidente e se deslocou de urn<br />

para 0 outro - talvez sbmente para confirmar a sua origem<br />

- permitiu a humanidade realizar no espa~o de 2 milenios.<br />

Como as cren!:as e as supersti~oes se dissolvem quando se<br />

encaram as relaifies reais entre os homens, a moral cede a<br />

hist6ria, as formas fluidas dao lugar as estruturas e a cria!:ao<br />

ao nada. Basta dobrar 0 passe inicial s3bre si mesmo para<br />

descobrir a sua simetria; suas partes se superpOem: as etapas<br />

ultrapassadas mio destroem 0 valor das preparat6rias: elas<br />

o verificam.<br />

Deslocando~se no seu quadro, 0 homem transporta consigo<br />

tMas as posi!:6es que ja ocupou, t6das as que ocupara. 1ble<br />

esta simultil.neamente em t6da a parte, e uma multidao que<br />

avan~a de frente, recapitulando em cada instante uma totalidade<br />

de etapas. Pois vivemos em muitos mundos, cada urn<br />

mais verdadeiro do que aque!e que contern, e ele pr6prio falso<br />

com rela~ao ao que 0 engloba. Dns se conhecem pela a~ao,<br />

os outros se realizam meditando-as, mas a contradi~o aparente<br />

que resulta de sua coexistencia se resolve na coe11:ao<br />

que sofremos para conceder urn sentido aos mais pr6ximos<br />

e para recusa~lo aos mais distantes; enquanto a verdade esta<br />

numa dilata~ao progressiva do sentido, mas em ordem inversa<br />

e levada ate 11 explosao.<br />

Como etn6grafo, deixo entao de ser 0 unico a sofrer com<br />

uma contradi~ao que e a de t6da a humanidade e que traz em<br />

si mesma a sua razao. A contradi~o permanece sbmente<br />

quando isolo os extremos: para que agir, se 0 pensamento<br />

que guia 11 a~ao conduz 11 descoberta da ausencia de senlido?<br />

Mas, essa descoberta nao e imediatamente accessivel: e preciso<br />

que eu a rnedite e nao posso medita-la de uma vez 80.<br />

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