Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
'r"opt<br />
280 TBISTES TROPICOS 281<br />
oude bois e eavaleiros se poriam a caminho, sob a dire~o<br />
de FUIg~ndo. com uma parte das bagagens. Um boi de carga<br />
carrega de 60 a 120 qUiIos segundo a sua for~a. divididos it<br />
direita e a esquerda em dois fardos de igual ~so. por meio<br />
de uma cangalha forrada de palha, tudo roberto com urn couro<br />
seeo. A distancia percorrida por dia e de mais ou menos 25<br />
quilornetros, mas depois de eada semana de marcha OS animais<br />
necessitaram de alguns dias de repouso. Tinbamos, pois. decidido<br />
mandar os animais oa frente, Uio poneo carregados<br />
quanta possfvel; en pr6prio viajaria num grande caminha.o<br />
enquanto a estrada 0 permitisse, isto e, ate Utiariti, a 500<br />
qUiIometros ao norte de OuiaM: pOsto da linha telegrafica<br />
ja em territ6rio nhambiquara. as margens do Rio Papagaio,<br />
onde uma balsa fragil demais impediria a passagem do caminhao.<br />
Em seguida, com~aria a aventura.<br />
OIto dias depois da partida da tropa - uma caravana de<br />
bois tern t;sse nome - nosso caminhao se movimentou com 0<br />
seu carregamento. Nao haviamos feito 50 qUilornetros e encontramos<br />
os nossos homens e os nossos animais tranqliilamente<br />
acampados oa savana, quando eu ja os supunha em<br />
Utiariti, ou quase. Fiquei -encolerizado pela primeira vez,<br />
mas nao devia ser a tiltima. S-er-me-iam necessarias outras<br />
deceP\i)es para compreender que a no~ao de tempo nao encontrava<br />
lugar no universo em que eu penetrava. Nao era<br />
eu quem dirigia a exped.i~ao; nao era Fulgencio: eram os<br />
bois. 1!:sses pesados animais ficavam como mulher dengosa,<br />
cheia de nao me toques de que era preciso atentar 0 born<br />
ou 0 mau humor, 0 geoio e os momentos de lassidao. Urn boi<br />
nao previne se esta fatigado ou se tem a carga muito pesada:<br />
continua a avan~ar, de repente derreia, morto ou extenuado<br />
a ponto de serern precisos 6 meses de repouso para se refazer.<br />
Nesse caso, a tinica solu~ao e abandona-Io. Os tropeiros estao.<br />
pois, sob as ordens dos seus animais. Cada urn tem urn nome.<br />
correspondente a sua c6r, ao seu porte ou ao sen temperamento.<br />
Assim, meus animais chamavam-se: Piano, Massa-Barro, Salino,<br />
Ohicolate, Taruma, GaI1io, Lavrado, Ramalhete, Rochedo, Lambari,<br />
A~anha~o, 'Carbonado, Galal3., lVlourinho, Mansinho, Correto,<br />
Duque, Motor (mrque, explicava 0 seu condutor, "{He<br />
anda muito bern"), Paulista, Navegante, Moreno, Figurino,<br />
Brioso, Barroso, Pai de M-el, Ara~a, Bonito, Brinquedo, Pretinho.<br />
Logo que os tropeiros julgam necessario, Wda a tropa<br />
estaciona. Descarregam-se os animais urn a urn, ergue-se 0<br />
acampamento. Se a regHio e segura, deixam-se os bois dis-<br />
I<br />
•<br />
persarem-se pelos campos; caso cootrario, e preciso pastorea-los,<br />
isto e, leva-los a pastar sob vigilftncia. T6das as manhas,<br />
alguns homens percorrem a regiao, num raio de muitos qui<br />
16metros, ate que se localize cada animal. A isso se chama<br />
campear. Os vaqueiros atribuem aos seus aoimais inten!i5es<br />
perversas: eles fogem mUitas vezes por malfcia, escondem-se,<br />
tornam-se invisiveis durante dias. Pois DaO fiquei imobilizado<br />
durante uma semana porque urn dos nossos burros, segundo<br />
me afirmavarn, partira para 0 campo caminhando primeiro<br />
de lado, depois de costas, de maneira que os seus rastos, eram<br />
indecifraveis para os que tinham ido a sua procura?<br />
Quando se reunem os animais, devem-se inspecionar suas<br />
feridas, cobri-Ias de pomada; cal~r as cangalhas para que a<br />
carga nao pese s6bre as partes machucadas. E preciso, enfim,<br />
arreiar e carregar os animais. Com~a entao urn novo drama:<br />
4 ou 5 dias de repouso Sao suficientes para que os bois se<br />
desabituem do servi~o; mal sentem a cangalha, alguns escoiceiam<br />
e se empinam, derrubando a carga laboriosamente equilibrada;<br />
recom~a-se tudo. Ainda se e feliz quando urn boi,<br />
sentindo-se livre, nao parte a trote atraves dos campos. Porque<br />
entao seria preciso acampar de novo, descarregar, pastorear,<br />
campear, etc., ate reunir outra vez tM-a a tropa, para<br />
urn carregamento repetido com freqiiencia cinco ou seis vezes<br />
ate que - porque? - uma unanime docilidade tenha sido<br />
obtida.<br />
Ainda menos pa.ciente que os bois, levei semanas para me<br />
resignar a essa marcha caprichosa. Deixando a tropa para<br />
tras, chegamos a Rosario do Oeste. povoado de um milhar de<br />
habitaates, na maior parte negros, anoes e papudos, alojados<br />
em casebres de barro de urn vermelho fUlgurante, sob tetos de<br />
palmas claras, ladeando av-enidas retas em que cresce imenso<br />
capinzal.<br />
Lembro-me da hortinha de meu hospedeiro: dir-se-ia uma<br />
~ da casa, tal a sua meticulosa organiza~ao. A terra fora<br />
batida e varrida, e as plantas estavam dispostas com 0 mesrno<br />
cuidado que os m6veis de urn salao: duas laranjeiras,<br />
urn limoeiro, urn pe de pimenta, dez pes de mandioca, dois<br />
ou tr~s de quiabos, outros tantos pes de sMa vegetal, duas<br />
roseiras, uma touceira de bananeiras, alguns pes de cana.<br />
Ravia, enfim, urn periquito nnma gaiola e tres galinhas amar~<br />
ractas pelas pernas a uma arvore.<br />
Em Rosario do Oeste, a cozinha de cerim6nia e "meio a<br />
meio": serviram-nos a metade de urn frango assado, a outra<br />
;}U SOlU;>u<br />
S 'B l'EJn'ElS<br />
ll1S9dOJd (<br />
SI,,''EUEC<br />
·>ou""," n<br />
"nb""!I'<br />
n owo:) 'Bl!<br />
.Ql UI~ "p'<br />
W;> '1'E!:);}(<br />
l~nbl"nb<br />
'fB:lU;}W 'E~<br />
~pmu~ ~(<br />
.u;>w 'EJU;)<br />
I 'Ol"J ~a'<br />
;>:> O:lU;>W<br />
JESU! ~p SI<br />
"pmESU! '<br />
SU! "1' o!5<br />
olJ~dSE SI<br />
'SEd ~P"Pt<br />
nb ~UlmS,<br />
rdsu! OlU,<br />
J ~P"P!Ul;<br />
;}JlO:> SE C<br />
op "!"91