13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

aparece-nos como inovador da técnica do <strong>soneto</strong>, conforme se verifica do<br />

seguinte, "Lira de Orfeu", composto com metros peregrinos, sem rimas<br />

uniformes nos quartetos e entretecido de evocações da mitologia<br />

helênica:<br />

LIRA DE ORFEU [Rodrigo Solano]<br />

Ressurges-me em sonho. Serena e desnuda, de mármore, finges<br />

Estátua descida do friso de um templo da Grécia que adoro.<br />

E avanças, sorrindo, de mão estendida e a fronte me cinges<br />

De uma ambicionada, perpétua e virente coroa de louro.<br />

De braços erguidos, quebrada a cintura, redondas as ancas,<br />

As curvas suaves, as curvas divinas da lira recordas<br />

E os louros cabelos, cobrindo-te as costas macias e brancas<br />

E até os artelhos, compridos, descendo, relembram as cordas.<br />

E oh! Sonho supremo da Hélade antiga! Se acaso me deixas,<br />

Que, como um liróforo, os dedos eu roce nas tuas madeixas,<br />

Um hino suave se espraia na terra, se eleva no céu.<br />

E, a ouvi-lo, emudecem as aves e os ventos e os rios e as fontes<br />

E os altos penedos palpitam, animam-se e descem dos montes...<br />

E ao mundo espantado renovas o mito da lira de Orfeu.<br />

[4.72] Leiamos também um <strong>soneto</strong> de Camilo Pessanha (1871-1926), espécime<br />

perfeito, no pensamento e na técnica, da obscura e abstrusa poesia dos<br />

ultradecadistas portugueses:<br />

[original de Camilo Pessanha]<br />

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,<br />

Onde esperei morrer - meus tão castos lençóis?<br />

Do meu jardim exíguo os altos girassóis<br />

Quem foi que os arrancou, e lançou ao caminho?<br />

Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)<br />

A mesa de eu cear, tábua tosca de pinho?<br />

E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?<br />

- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...<br />

Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.<br />

Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova.<br />

100

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!