13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Que é vento, quanto neste pó se encerra:<br />

Diz-me outro vento que esse pó vil erra.<br />

Qual destes a verdade solicita?<br />

Pois se mente este pó, que foi do Mundo?<br />

Que é do gosto? que é do ócio? que é da idade?<br />

Que é do vigor constante, e amor jocundo?<br />

Que é da velhice? que é da sociedade?<br />

Tragou-me a vida inteira o mar profundo?<br />

Ora, quem diz sou pó, falou verdade.<br />

[4.41] Durante a primeira metade do século XVIII, continuou a dominar,<br />

na poesia portuguesa, a feição artificial e arrebicada do século<br />

precedente; na segunda metade do centênio, posto que sobremodo indeciso<br />

ainda, começa a prenunciar-se o advento da fase romântica. O<br />

aparecimento das chamadas Arcádias literárias assinala o crepúsculo<br />

vespertino do período anterior: é o abrolhar, pelo menos, da inspiração<br />

poética fundada no sentimento nacionalista e nas tradições históricas da<br />

nação. A escola predominante então tem o nome de "arcádica" ou<br />

"francesa", por ser bastante sensível a influência das letras da França<br />

na sua produção literária.<br />

[4.42] Cabe a Antônio Dinis da Cruz e Silva (1731-1799) e outros a honra<br />

dessa insurreição contra o espanholismo dominante e a tentativa da<br />

restauração do bom gosto na poesia. Os <strong>soneto</strong>s de Pedro Antônio Correia<br />

Garção (1724-1772) e de Domingos dos Reis Quita (1728-1970) revelam<br />

engenho um tanto emancipado das influências vigentes. Seguem-se a estes,<br />

como sonetistas, Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), o célebre<br />

"Elmano Sadino" da Nova Arcádia, e, com menor relevo literário, o citado<br />

Antônio Dinis, Nicolau Tolentino de Almeida, Paulino Antônio Cabral,<br />

Abade de Jazente, Belquior Curvo Semedo, João Xavier de Matos, Filinto<br />

Elísio, pseudônimo de Dom Francisco Manuel do Nascimento, a Marquesa de<br />

Alorna e mais alguns.<br />

[4.43] Leia-se este <strong>soneto</strong>, intitulado "Pôs-se o Sol", de João Xavier de<br />

Matos, comprovativo da evolução do gênero, no fim do século XVIII:<br />

PÔS-SE O SOL [João Xavier de Matos]<br />

Pôs-se o sol; como já, na sombra feia,<br />

Do dia, pouco a pouco a luz desmaia!<br />

E a parda mão da Noite, antes que caia,<br />

De grossas nuvens todo o ar semeia!<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!