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o soneto brasileiro

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[original de Sá de Miranda]<br />

O sol é grande; caem co'a calma as aves,<br />

Do tempo em tal sazão que sói ser fria.<br />

Esta água que cai do alto, acordar-me-ia<br />

Do sono não, mas de cuidados graves.<br />

Ó coisas todas vãs, todas mudaves!<br />

Qual é o coração que em vós confia?<br />

Passando um dia vai, passa outro dia,<br />

Incertos todos, mais que ao vento as naves.<br />

Eu vi já por aqui sombras e flores,<br />

Vi águas e vi fontes, vi verdura(s),<br />

As aves vi cantar todas d'amores.<br />

Mudo e seco é já tudo, e de mistura<br />

Também fazendo-me eu fui, de outras cores:<br />

Se tudo o mais renova, isto é sem cura.<br />

SONETO SADEMIRANDADO [Glauco Mattoso]<br />

É sábia a Natureza! A chuva passa<br />

e tudo se renova: a fauna, a flora...<br />

Parece que nasceram logo agora<br />

que o sol nos deu o arzão da sua graça...<br />

Também eu redescubro algo que faça<br />

valer a pena a vida, muito embora<br />

mais fraca seja a fé que revigora,<br />

menor seja a esperança que renasça...<br />

Depois do que passei e tenho visto,<br />

me sobra cada vez menos motivo<br />

plausível de que penso e de que existo.<br />

Se for indubitável que estou vivo,<br />

melhor é o "sim" que o "não" e, certo disto,<br />

de nada mais me omito nem me privo.<br />

[4.15/20] Concordo com as críticas observações de Cruz Filho quanto aos<br />

mais arcaicos <strong>soneto</strong>s lusitanos, mas é preciso ressalvar que as<br />

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