13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

[2.91/92] Concordo que Gregório seja lembrado sempre que se alude à<br />

poesia satírica, mas convém insistir no aviso de que o Boca do Inferno<br />

merece lugar entre os poetas maiores justamente por sua verve implacável<br />

e impagável, e não como mero representante duma fase histórica ou duma<br />

faceta histriônica. O mesmo vale para outros nomes citáveis no terreno<br />

da risonha crítica de costumes, lembrados ou não por Cruz Filho. Não<br />

menos digna de consideração é a vertente que une a veia cômica à cena<br />

erótica, resultando na modalidade dita "fescenina", que obviamente Cruz<br />

Filho nem se permite lobrigar, exceto quando atribui a "grosseria<br />

erótica" ao comportamento "lunático" dos psicopatas.<br />

[2.96/98] Concordo que um suposto desequilíbrio mental seja excelente<br />

pretexto aos desvarios poéticos e às licenças mais licenciosas que as<br />

conveniências "civilizadas", mas reputo mais interessante exemplificar o<br />

desvario com casos como o de Zé Limeira, o Poeta do Absurdo, a quem se<br />

atribui um pendor para o nonsense que, segundo alguns pesquisadores,<br />

ensejaria inclusive certas liberdades à libertinagem. Apócrifo ou não,<br />

vale ilustrar este parágrafo com um caso de Limeira.<br />

[2.96/98.1] O lendário repentista paraibano utilizava, como de praxe na<br />

tradição oral e na literatura de cordel, a redondilha maior em que são<br />

compostas as décimas para glosar motes correntes. O insólito nonsense de<br />

Limeira ensejou ao conterrâneo Braulio Tavares a idéia de adaptar a<br />

escalafobética comicidade do "limerick" inglês ao clima <strong>brasileiro</strong>,<br />

donde o trocadilho "limeirique" criado por Braulio para o tipo de<br />

epigrama cujo molde em quintilha também pratiquei. Menos conhecida,<br />

porém, é a habilidade de Limeira no decassílabo, bem como sua faceta<br />

sonetística, comprovada por vários pesquisadores que lhe recolheram<br />

amostras do gênero. Tratando-se de cultura popular, é natural que de<br />

alguns <strong>soneto</strong>s houvesse variantes, tanto quanto nomes de terceiros (como<br />

outro paraibano, chamado Stilon Wanzek) disputando com Limeira a autoria<br />

deste ou daquele poema. Prefiro seguir a política de atribuir a César o<br />

que já é creditado a César. Vejamos como o estapafúrdio estilo<br />

limeiriano é nitidamente reconhecível nestes exemplos:<br />

MULHER ADÚLTERA [Zé Limeira]<br />

Cinco touros brincavam no quintal;<br />

Dez galinhas brincavam no terreiro;<br />

Três navios no Rio de Janeiro<br />

Navegavam pensando em Portugal.<br />

Recordando a viagem de Cabral,<br />

De Colombo e de um tal de Omar Kaiã,<br />

253

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!