13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

[8.12] CARLOS DE LAET (1847-1927)<br />

TRISTE FILOSOFIA<br />

Ia Rosa vestir-se, e do vestido<br />

Uma voz se desprende e assim murmura:<br />

"Muitas morremos de uma morte escura,<br />

Porque te envolva sérico tecido".<br />

Ia toucar-se, e escuta-se um gemido<br />

Do marfim que as madeixas lhe segura:<br />

"Por dar-te o afeite desta minha alvura,<br />

Jaz na selva meu corpo sucumbido!"<br />

Põe um colar, e a pérola mais fina:<br />

"Para pescar-me, quantos párias, quantos!<br />

Padeceram no mar lúgubres sortes!"<br />

E Rosa chora: "Oh! desditosa sina!<br />

Todo sorriso é feito de mil prantos,<br />

Toda vida se tece de mil mortes!"<br />

[8.13] NARCISA AMÁLIA (1852-1924)<br />

RECORDAÇÃO FATAL<br />

Distende essa mimosa envergadura,<br />

Verso! Leve, transpondo os altos montes,<br />

Sobe! Assombra-te, acaso, a terra impura?<br />

Mergulha, inteiro, nas celestes fontes!<br />

Anima-te! Esvoaça! Olvida a escura<br />

Geena! Choradas lágrimas não contes...<br />

- Porque prantos cantar, se é em festa a altura?<br />

Se há, bengali, rosais nos horizontes?<br />

Mas - ai! triste galé! quer o poema<br />

De amor dos sóis surpreendas, quer a casta<br />

Rola por tua voz soluce e gema,<br />

Será contigo a lúgubre, a nefasta<br />

Recordação, que arrasto, como a ema<br />

A asa partida pelo campo arrasta!<br />

146

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!