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o soneto brasileiro

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Das chaminés das fábricas saem mais<br />

nuvens (claras, escuras) de vapor<br />

e de fumaça, com a cor das quais<br />

o azul do céu muda-se noutra cor.<br />

Pairando entre esse céu assim mudado<br />

e a terra onde prossegue a mesma a vida<br />

com seu esquema aceito mas errado<br />

retém-se o nosso olhar em bagatelas<br />

- que de pequenas coisas é tecida<br />

a glória de viver e achá-las belas.<br />

[8.73] CARLOS PENA FILHO (1929-1960)<br />

SONETO DO DESMANTELO AZUL<br />

Então, pintei de azul os meus sapatos<br />

por não poder de azul pintar as ruas,<br />

depois, vesti meus gestos insensatos<br />

e colori as minhas mãos e as tuas.<br />

Para extinguir em nós o azul ausente<br />

e aprisionar no azul as coisas gratas,<br />

enfim, nós derramamos simplesmente<br />

azul sobre os vestidos e as gravatas.<br />

E afogados em nós, nem nos lembramos<br />

que no excesso que havia em nosso espaço<br />

pudesse haver de azul também cansaço.<br />

E perdidos de azul nos contemplamos<br />

e vimos que entre nós nascia um sul<br />

vertiginosamente azul. Azul.<br />

[8.74] IVAN JUNQUEIRA (1934)<br />

ESSE PUNHADO DE OSSOS (a Moacyr Félix)<br />

Esse punhado de ossos que, na areia,<br />

alveja e estala à luz do sol a pino<br />

moveu-se outrora, esguio e bailarino,<br />

como se move o sangue numa veia.<br />

Moveu-se em vão, talvez, porque o destino<br />

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