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o soneto brasileiro

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Deixo o mundo; só tu vens a meu lado,<br />

Tu somente, e, deixando em baixo grotas,<br />

Serras, cidades -- fujo, ascendo, alado,<br />

Da fantasia pelas ínvias rotas;<br />

E vejo um sol na tela purpurina<br />

Do ocaso, e subo ainda, penetrando,<br />

Alfim, do Céu, no páramo profundo;<br />

E então escuto, pávido, a argentina<br />

Voz das estrelas trêmulas, falando<br />

Sobre as cousas tristíssimas do mundo...<br />

DE OUTRO TEMPO [Teotônio Freire]<br />

Essa arruinada estância foi outrora<br />

Nobre castelo de esforçados pares;<br />

Hoje montão de pedras, onde a aurora<br />

Põe tons de treva e sombras singulares.<br />

O tojo cresce e os paredões colora<br />

A esverdinhada grama; sobre os lares<br />

A poeira e, além, nos robles seculares<br />

Do parque, o deus do isolamento chora.<br />

Alta noite, porém, torvos, ferinos,<br />

Batendo escudos com as agudas lanças,<br />

Surgem das ruínas bravos paladinos,<br />

E austeros, graves, frontes levantadas,<br />

Passam, jurando mortes e vinganças,<br />

Com a mão na cruz das rútilas espadas.<br />

ASPIRAÇÃO [Zeferino Brasil]<br />

Ser pedra! não sofrer nem amar, ó que ventura!<br />

Excelsa aspiração que merece um poema!<br />

Ser pedra e ter da pedra a consistência dura<br />

Que resiste do tempo à corrupção extrema.<br />

Alma! sopro de luz que me anima e depura,<br />

Antes tu fosses pedra: um diamante, uma gema<br />

Não te seria a vida esta insana loucura<br />

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