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o soneto brasileiro

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Há saudades que pungem docemente<br />

Como as lembranças de um feliz passado,<br />

Quando se vive ainda acalentado<br />

Pelos sonhos de gozos do presente.<br />

Mas, se da vida no areal candente<br />

Para o vigor perdido, e abandonado<br />

Volve aos céus da ventura o olhar magoado<br />

Como a saudade, então, é atroz, pungente!<br />

E, ah! feliz do que em meio aos dissabores<br />

Da alma ainda achar nos íntimos refolhos<br />

Um mar de prantos que lhe afogue as dores!<br />

Pois sofre mais quem desolado e exangue,<br />

Não tendo nunca lágrimas nos olhos,<br />

Tem dentro da alma lágrimas de sangue.<br />

LÁGRIMAS DE CERA [Raul Machado]<br />

Quando Estela morreu, choravam tanto!<br />

Chovia tanto nessa madrugada!<br />

-- Era o pranto dos seus, casado ao pranto<br />

Da Natureza -- mãe desventurada!<br />

Ninguém podia ver-lhe o rosto santo,<br />

A fronte nívea, a pálpebra cerrada,<br />

Que não sentisse, logo, em cada canto<br />

Dos olhos, uma lágrima engastada!<br />

Ai! não credes, bem sei, porque não vistes!<br />

Mas quando ela morreu, chorava tudo!<br />

Até dois círios, lânguidos e tristes,<br />

Acendidos à sua cabeceira,<br />

Iam chorando, no seu pranto mudo,<br />

Um rosário de lágrimas de cera!<br />

OUVINDO BEETHOVEN [Rodrigo Otávio]<br />

Quando os teus dedos hábeis do teclado<br />

Ebúrneo arrancam as celestes notas<br />

Dessa música estranha, eu sou levado<br />

De um triste sonho às regiões ignotas;<br />

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