13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

poesia ocidental. Beatriz Portinari, de quem o poeta esperava "dizer o<br />

que não se disse jamais de outra mulher", nasceu e morreu na cidade de<br />

Florença; não é uma ficção poética.<br />

[1.28] Em Francisco Petrarca, nascido em Arezzo, na Toscana, em 1304, e<br />

morto em Arcua, perto de Pádua, em 1374, o sentimento daquela poesia<br />

caracteristicamente italiana mais se acentuou e apurou. Laura de Noves,<br />

a protagonista do drama amoroso do "Canzoniero", é, como Beatriz, musa<br />

sedutora, encarnação da suprema beleza, ao olhar do poeta enamorado, em<br />

que pese à indiferença e insensibilidade da esquiva provençal. Ainda<br />

depois da sua morte, o aperfeiçoador do <strong>soneto</strong> italiano continuou, na<br />

melancólica solidão de Vaucluse, a evocar esse fantasma familiar, como<br />

se vê no <strong>soneto</strong> que para aqui trasladamos:<br />

[original de Petrarca]<br />

Che fai? Che pensi? Che pur dietro guardi<br />

Nel tempo che tornar non pote mai,<br />

Anima sconsolata? che pur vai<br />

Giugnendo legna al foco ove tu ardi?<br />

Le soavi parole e i dolci sguardi<br />

Ch'ad un ad un descritti e dipint' hai<br />

Son levati da terra: ed é, ben sai,<br />

Qui ricordargli intempestivo e tardi.<br />

Deh! non rinnovellar quel che n'ancide;<br />

Non seguir più pensier vago fallace,<br />

Ma saldo e certo ch'a buon fin ne guide.<br />

Cerchiamo 'l ciel, se qui nulla ne piace;<br />

Ché mal per noi quella belta si vide,<br />

Se viva e morta ne dovea tôr pace. (14)<br />

[1.29] O idealismo que impregna a lírica petrarquiana incutiu, na poesia<br />

dos tempos que se seguiram, o seu caráter primacial: nele se encontra<br />

porventura, como se há notado, o sinal de transição entre a Idade-Média<br />

e o Renascimento.<br />

[1.30] A despeito do abuso de citações que já entremeiam o presente<br />

capítulo, aliás requeridas pelo caráter controverso do problema<br />

literário cuja elucidação nele se intenta, não podemos deixar de pedir a<br />

Fidelino de Figueiredo, preclaro historiador da literatura portuguêsa,<br />

algumas linhas de meditada prosa sobre o <strong>soneto</strong> petrarquiano: "Com o<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!