13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

As lágrimas choradas não secaram<br />

Nos saudosos campos da ternura.<br />

Santa entre as santas pela má ventura,<br />

Rainha mais que todas que reinaram;<br />

Amada, os teus amores não passaram,<br />

E és sempre bela e viva e loura e pura.<br />

Ó linda, sonha aí, posta em sossego<br />

No teu moimento de alva pedra fina,<br />

Como outrora na fonte do Mondego.<br />

Dorme, sombra de graça e de saudade,<br />

Colo de garça, amor, moça, menina,<br />

Bem-amada por toda a eternidade!<br />

[4.70] Júlio Dantas (1876) é outro brilhante sonetista, ao gosto poético<br />

do Conde de Monsaraz, na preocupação de evocações solarengas e de salões<br />

aristocráticos. O <strong>soneto</strong> "Espanha", que abaixo trasladamos, dá bem o tom<br />

da maneira literária do poeta:<br />

ESPANHA [Júlio Dantas]<br />

Foi há nove anos já, nesse solar amigo,<br />

Entre as murtas anãs duma velha alameda,<br />

Que a Marquesa de Uñon Garcia de la Rueda<br />

Se esqueceu do Marquês, a conversar comigo.<br />

Aconchegou-se a mim, no misterioso abrigo;<br />

Recitou, a tremer, uns versos de Espronceda...<br />

E a minha mão sentiu uma meia de seda,<br />

E o meu lábio pousou sobre um colar antigo.<br />

O calor duma perna e a pedra dum colar...<br />

Num súbito clarão, passaram-me no olhar<br />

Frades de Zurbaran, "majas" nuas de Goya.<br />

E hoje ainda, ao errar de noite na alameda,<br />

Sinto a crepitação dessa meia de seda<br />

E o gelado fulgor dessa pequena jóia...<br />

[4.71] Rodrigo Solano (1879-1910), poeta cujo nome anda bastante<br />

esquecido nos modernos compêndios de história da literatura portuguesa,<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!