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o soneto brasileiro

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São esses olhos com que o olhar me fitas.<br />

Tenho a impressão que vai dizer adeus<br />

Este olhar de renúncias infinitas.<br />

Todos os sonhos, que se fazem seus,<br />

Tomam logo a expressão de almas aflitas.<br />

E até que, um dia, cegue à mão de Deus,<br />

Será o olhar de todas as desditas.<br />

Assim parado a olhar-me, quase extinto,<br />

Este olhar que, de noite, é como o luar,<br />

Vem da distância, bêbedo de absinto...<br />

Este olhar, que me enleva e que me assombra,<br />

Vive curvado sobre o meu olhar<br />

Como um cipreste sobre a própria sombra.<br />

PROH PUDOR! [Cesário Verde]<br />

Todas as noites ela me cingia<br />

Nos braços, com brandura gasalhosa;<br />

Todas as noites eu adormecia,<br />

Sentindo-a desleixada e langorosa.<br />

Todas as noites uma fantasia<br />

Lhe emanava da fronte imaginosa;<br />

Todas as noites tinha uma mania<br />

Aquela concepção vertiginosa.<br />

Ela tinha um furor dos mais soturnos,<br />

Agora, há quase um mês, modernamente,<br />

Furor original, impertinente...<br />

Todas as noites ela, ó sordidez!<br />

Descalçava-me as botas, os coturnos<br />

E fazia-me cócegas nos pés...<br />

PÉRFIDA [Francisca Júlia]<br />

Disse-lhe o poeta: "Aqui, sob estes ramos,<br />

Sob estas verdes laçarias bravas,<br />

Ah! quantos beijos, trêmula, me davas!<br />

Ah! quantas horas de prazer passamos!<br />

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