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o soneto brasileiro

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[2.7] Concordo que, em seus cíclicos períodos de descrédito ao longo da<br />

história, o <strong>soneto</strong> padecesse de excessiva mediocridade ou pieguice;<br />

concordo ainda que a muitos poetas faltem noções elementares de<br />

versificação e até de gramática. Mas nem as fases de decadência, nem as<br />

carências individuais, servem de justificativa à defesa de quaisquer<br />

"regras estatuídas" demasiado rígidas ou subordinadas ao ideário<br />

programático desta ou daquela escola. Nada de argumentos capciosos, hem,<br />

caro Cruz Filho?<br />

[2.8/9] Concordo, ou ao menos compreendo, que Cruz Filho se sentisse<br />

incomodado com o oportunismo dos antologistas que, como Laudelino Freire<br />

ou o próprio Alberto de Oliveira, pretendessem priorizar,<br />

respectivamente, a quantidade ou a qualidade, até porque ele mesmo, Cruz<br />

Filho, planejava reunir num "panorama" a sua antologia ideal,<br />

parcialmente enfeixada no capítulo [8] desta monografia. Mas a profusão<br />

de antologias não pode ser pretexto para desautorizar os pesquisadores<br />

que, no propósito de contemplar a diversidade formal ou temática do<br />

<strong>soneto</strong>, incluam aquilo que o autor chama de "mau gosto" e classifica<br />

entre os "espécimes do que há de desvalioso no gênero", simplesmente por<br />

se tratar de experimentações algo transgressivas do padrão estético<br />

vigente em determinado momento ou círculo. Nas incontáveis antologias<br />

publicadas desde a de Laudelino, o denominador comum foi e será a<br />

pluralidade dentro da unidade, como se verifica, por exemplo, na<br />

volumosa "Os mais belos <strong>soneto</strong>s <strong>brasileiro</strong>s", organizada por Edgard<br />

Rezende (Rio de Janeiro: Vecchi, 1946) ou na recente "De Gregório a<br />

Drummond", organizada por Napoleão Valadares (Brasília: André Quicé<br />

Editor, 1999).<br />

[2.10/13] Concordo com toda e qualquer argumentação que demonstre as<br />

ideais dimensões do formato, capazes de conciliar concisão com<br />

conclusão, ou seja, raciocínio completo dentro de escrínio compacto.<br />

Mas, ainda que nem precisasse citar Brunetière e Gautier para ilustrar<br />

ataques ou defesas, Cruz Filho foi feliz quando recorreu à cena de<br />

"strip-tease" ousadamente aventada por João Ribeiro. Quanto ao reduzido<br />

espaço, que diriam os anti-sonetistas dum haicai ou duma trova? Quanto<br />

aos "grandes pensamentos", que diriam dum "to be or not to be" ou dum<br />

"cogito ergo sum", menores que um só decassílabo? Se uma máxima cabe num<br />

único verso mínimo, catorze serão suficientes para abrir e fechar<br />

qualquer pensamento com uma dessas chaves de ouro, diria eu.<br />

[2.14] O cálculo de Castilho refere-se a um <strong>soneto</strong> em alexandrinos,<br />

visto que o decassílabo resultaria em 140 sílabas, divididas em dois<br />

segmentos de 40 e dois de 30. Fica claro que a opinião de Castilho se<br />

volta contra o feiticeiro, já que o engenho humano, para não dizer<br />

engenho e arte, mais meritoriamente exercerá sua liberdade de expressão<br />

se o fizer a despeito das supostas barreiras silábicas. A verdadeira<br />

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