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o soneto brasileiro

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[1.15/17.2] Ainda a propósito de Wordsworth, seu <strong>soneto</strong> foi evocado por<br />

Manuel Bandeira quando homenageou o filho de Alphonsus de Guimaraens,<br />

também sonetista, falecido em 2008 (ver 8.69):<br />

A ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO [Manuel Bandeira]<br />

Scorn not the sonnet, disse o inglês. Ouviste<br />

O conselho do poeta e um dia, quando<br />

Mais o espinho pungiu da ausência triste,<br />

O primeiro <strong>soneto</strong> abriu cantando.<br />

Musa do verso livre, hoje ela insiste<br />

Na imortal forma, da paterna herdando.<br />

Todos em louvor dessa que ora assiste<br />

Em teu lar, dois destinos misturando.<br />

No molde exíguo, onde infinita a mágoa<br />

Humana vem caber, como o universo<br />

A refletir-se numa gota d'água,<br />

Disseste o mal da ausência. E ais e saudades<br />

E vigílias e castas soledades<br />

Choram lágrimas novas no teu verso.<br />

[1.24/26] Concordo que a figura feminina medieval/renascentista tenha<br />

evoluído da condição de escrava perante o dono para a condição de dama<br />

perante o cavalheiro, mas, se o dono era dominador, o cavalheiro será,<br />

ainda e sempre, conquistador. Constatar que houve alguma evolução não<br />

soluciona o problema literário; aliás, apenas escamoteia um problema<br />

maior por detrás da mera objetificação da mulher: por que condicionar o<br />

lirismo à obrigatória idealização duma musa? Que as Beatrizes e Lauras,<br />

como as Marílias e Nises, povoem a lenda dos poetas clássicos, nada a<br />

criticar. O problema está em exigir, do poeta em geral e do sonetista em<br />

particular, que, para se tornar clássico, protagonize em sua obra a<br />

mulher amada. A essa questão Cruz Filho não dá resposta cabal (sequer<br />

quando, mais adiante, alegará que o parnasianismo teria ampliado o leque<br />

temático com abstrações mitológicas, filosóficas, históricas e até<br />

científicas), já que o <strong>soneto</strong> permaneceria, em sua opinião, limitado a<br />

temas "nobres" para ser qualificado como poesia "maior". (Ver 4.24/25)<br />

[2.3] Ao citar Boileau entre os esticólogos que regularam o <strong>soneto</strong>, Cruz<br />

Filho mais uma vez capitula ante a galicista mania parnasiana. A<br />

legitimidade dos franceses para legislar sobre o gênero pouco afeta os<br />

demais idiomas novilatinos, a começar pelo fato de que, em seus próprios<br />

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