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o soneto brasileiro

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pratica com extrema correção e fluência, à parte os fatais pequenos<br />

deslizes; deste modo conseguiu Camões as condições do primeiro grau de<br />

beleza, a que resulta da harmonia e da elevação, da concisão bem<br />

equilibrada, da clareza da linguagem, isto é, a beleza da forma, como<br />

idôneo instrumento da expressão. Em segundo lugar, manejando de modo<br />

novo e pessoalíssimo a matéria que se lhe oferecia". (5)<br />

[4.23] Camões, de fato, pela serena beleza dos seus <strong>soneto</strong>s, cheios, não<br />

raro, de contagiosa melancolia, e pela mestria com que maneja a nossa<br />

língua, soube superar todos os poetas seus contemporâneos e não faz má<br />

figura junto a Petrarca, seu acatado mestre.<br />

[4.24] A alguns dos belos <strong>soneto</strong>s que compôs anda insistentemente ligado<br />

o nome de certa dama do Paço, "Natércia", aliás Catarina de Ataíde,<br />

considerada hoje simples personagem de uma lenda literária, nascida de<br />

certa burla forjada por Manuel de Faria e Sousa, biógrafo do grande<br />

poeta.<br />

[4.25] A despeito de interpretação mais recente, defendida pelo Doutor<br />

José Maria Rodrigues, notável camonianista, segundo a qual a paixão<br />

amorosa de Camões, como a de Tasso, visaria às alturas da Realeza,<br />

concentrada que estaria na Infanta D. Maria, filha de El-Rei D. Manuel<br />

I, já difícil é hoje isolar-se, pelo menos na imaginação popular, o nome<br />

de "Natércia" do romance amoroso de Luís de Camões.<br />

[4.26] Da vasta cópia de <strong>soneto</strong>s que nos legou, a respeito dos quais<br />

Mendes dos Remédios parece perfilhar a opinião de que "não chegam a<br />

trinta os que entre todos se avizinham da perfeição", transcrevemos<br />

seguidamente alguns, inclusive o mais conhecido entre eles ("Alma minha<br />

gentil, que te partiste..."), dedicado à memória de "Dinamene", moça<br />

chinesa a quem se teria afeiçoado o poeta, no Oriente, e que pereceu<br />

afogada, à sua vista:<br />

[4.27] [original de Camões]<br />

Alma minha gentil, que te partiste<br />

Tão cedo desta vida, descontente,<br />

Repousa lá no Céu eternamente<br />

E viva eu cá na terra sempre triste.<br />

Se lá no assento etéreo, onde subiste,<br />

Memória desta vida se consente,<br />

Não te esqueças daquele amor ardente<br />

Que já nos olhos meus tão puro viste.<br />

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