o soneto brasileiro
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[5.15] Dentre os poetas que poderemos chamar últimos clássicos têm algum<br />
direito a registro, numa história do <strong>soneto</strong> <strong>brasileiro</strong>, apesar de<br />
medíocre valor de alguns deles, os nomes do Padre Antônio Pereira de<br />
Sousa Caldas (1762-1814), José Bonifácio de Andrada e Silva (1765-1838),<br />
Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha (1769-1811), José da Natividade<br />
Saldanha (1796-1832), José Maria do Amaral (1813-1885), poeta elegíaco,<br />
de feitio arcádico, que nos deixou cerca de oitocentos <strong>soneto</strong>s, e<br />
Antônio Peregrino Maciel Monteiro (1804-1868), poeta galante e<br />
diplomata, ávido de torneios amorosos, que dizia ter as mãos calejadas<br />
do trato íntimo com fraldas de vestidos de seda. São quase todos figuras<br />
de reduzida estatura, precursores, mais do ponto de vista cronológico do<br />
que por qualquer outro aspecto, dos nossos poetas românticos.<br />
[5.16] A contrastar com a expressão desse quase sempre exangue<br />
classicismo, dado o seu vigor, beleza formal e adiantamento no tempo,<br />
houve, aqui, paralelo ao movimento parnasiano, interessante<br />
revivescência da estética clássica no <strong>soneto</strong> <strong>brasileiro</strong> com João<br />
Ribeiro, Alberto de Oliveira, José Albano e um tanto com Vicente de<br />
Carvalho. Fenômeno mais imputável à erudição literária daqueles poetas<br />
do que a ambiente propício ao florescimento de tal planta inatual,<br />
convém assinalar que todos, ou quase todos os <strong>soneto</strong>s de João Ribeiro<br />
são vazados nos antigos moldes ("Museon"). Alberto de Oliveira, que, nas<br />
suas primeiras obras ("Meridionais" e "Sonetos e Poemas") evidenciara<br />
acentuado pendor para a forma clássica, apareceu-nos, em hora tardia,<br />
com dois <strong>soneto</strong>s, "Taça de Coral" e "Palemo", incluídos na segunda série<br />
das suas "Poesias". São ambos obras de extremo apuro de feitura, mas de<br />
não fácil apreensão do pensamento do autor, sobretudo o primeiro deles.<br />
José Albano, poeta do século XVI tresmalhado na nossa época, foi<br />
invariavelmente delicioso camoniano. Em Vicente de Carvalho a<br />
preocupação de classicismo terá sido talvez eventual, mais denotativa de<br />
capricho literário do que de amor ao obsoleto. Deixou-nos esse poeta uma<br />
série de <strong>soneto</strong>s, "Velho Tema", que há colaborado na sua sempre viva<br />
celebridade nas nossas letras.<br />
[5.17] A história da literatura brasileira, expressa na relativa<br />
autonomia da sua produção, data da terceira década do século XIX, quando<br />
para aqui importamos o espírito do movimento literário europeu que se<br />
denomina Romantismo. Foi agora a França, e não mais Portugal, que veio<br />
presidir à nossa elaboração poética, o que, aliás, já o vinha fazendo<br />
desde 1750, mediante a influência do classicismo de Boileau, algo<br />
sensível, às vêzes, nas letras brasileiras daquele período.<br />
[5.18] O nosso Romantismo, como observa Clóvis Beviláqua, não passou de<br />
transplantação exótica, feita artificialmente, por mero espírito de<br />
imitação; acabou, entretanto, por infiltrar-se na alma brasileira, da<br />
qual fez brotar produções de caráter próprio, original. Deixou, todavia,<br />
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