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o soneto brasileiro

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Quanta gente que ri, talvez, consigo<br />

Guarda um atroz, recôndito inimigo,<br />

Como invisível chaga cancerosa!<br />

Quanta gente que ri, talvez existe,<br />

Cuja ventura única consiste<br />

Em parecer aos outros venturosa!<br />

(Se a ciascun l'interno affano<br />

Se legesse in fronte scritto,<br />

Quanti mai che invidia fanno,<br />

Ci farebbero pietà!<br />

Se vedria che i lor nemici<br />

Hanno in seno; e si reduce<br />

Nel parere a noi felice<br />

Ogni lor felicità.<br />

(Se se pudesse ler, escrita na fronte de cada um, a sua íntima aflição,<br />

quantos, que ora nos causam inveja, nos despertariam piedade!<br />

Ver-se-ia que eles levam no seio os seus próprios inimigos, e que toda a<br />

sua felicidade consiste em nos parecer felizes).<br />

[6.6.24] Afirmar que os <strong>soneto</strong>s acima transcritos não tiveram como<br />

fontes de inspiração a poesia de Gautier e, direta ou indiretamente, a<br />

citada estrofe de Metastásio, será afirmação de evidente má fé.<br />

Reconhecer o fato é o dever da crítica, ainda que não recuse, para o<br />

explicar, a hipótese da intervenção de insídias do subconsciente, aliás<br />

sumamente benfazejas para as letras brasileiras, visto que lhes<br />

trouxeram duas jóias de alto valor, cujo brilho, de certa maneira,<br />

ofusca, digamo-lo sem vã pretensão nacionalista, as fontes donde lhes<br />

manou a inspiração.<br />

[6.6.25] Poderíamos ainda acrescentar que os nossos dois poetas citados,<br />

Luís Guimarães e Raimundo Correia, com o recorrerem à imitação, ao<br />

compor os <strong>soneto</strong>s indicados, não deixarão de encontrar-se em alta e<br />

honrosa companhia, uma vez que de acusações da mesma natureza também são<br />

vítimas, além dos escritores já apontados, Rabelais, Corneille, Boileau,<br />

Racine, Molière, Bossuet, La Fontaine, Malherbe, Sévigné, Pascal,<br />

Dellile, Voltaire, Rousseau, Lamartine, Musset, Leconte de Lisle, Eça de<br />

Queirós e até Herédia, o mestre incomparável do <strong>soneto</strong>, o qual, no<br />

opinar de Alberto Faria, teria ido colher a inspiração do aparentemente<br />

original "Récif de corail" a um dos "Hymnes Orphiques", em que o mesmo<br />

Leconte de Lisle faz a invocação das nereidas:<br />

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