13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Beijando o espelho d'água da linguagem,<br />

jamais tivemos mesmo outra mensagem,<br />

jamais adivinhando se a arte imita<br />

a vida ou se a incita ou se é bobagem:<br />

desejarmo-nos é a nossa desdita,<br />

pedindo-nos demais que seja dita.<br />

[8.77] ANTÔNIO CARLOS SECCHIN (1952)<br />

"ESTOU ALI..." (a Alberto da Costa e Silva)<br />

Estou ali, quem sabe eu seja apenas<br />

a foto de um garoto que morreu.<br />

No espaço entre o sorriso e o sapato<br />

há um corpo que bem pode ser o meu.<br />

Ou talvez seja eu o seu espelho,<br />

e olhar reflete em mim algum passado:<br />

o cheiro das goiabas na fruteira,<br />

o murmúrio das águas no telhado.<br />

No retrato outra imagem se condensa:<br />

percebo que apesar de quase gêmeos<br />

nós dois somos somente a chama inútil<br />

contra a sombra da noite que nos trai.<br />

Das mãos dele recolho o que me resta.<br />

Eu o chamo de filho - e é meu pai.<br />

[8.78] ALEXEI BUENO (1963)<br />

SE NUNCA A UM CEGO<br />

Se nunca a um cego nato alguém falasse<br />

As palavras cegueira, ou vista, ou cor,<br />

E do mundo a feição falsificasse<br />

De um modo em que normal fosse o negror,<br />

E das artes do ser só lhe ensinasse<br />

As que as trevas têm forças de compor,<br />

De forma que o universo aparentasse<br />

Ser lógico no escuro esmagador,<br />

Este cego, educado em outra História<br />

194

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!