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o soneto brasileiro

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[8.21] AFONSO CELSO (1860-1938)<br />

ANJO ENFERMO<br />

Geme no berço, enferma, a criancinha,<br />

Que não fala, não anda e já padece...<br />

Penas assim cruéis porque as merece<br />

Quem mal entrando na existência vinha?<br />

Ó melindroso ser, ó filha minha,<br />

Se os céus me ouvissem a paterna prece,<br />

E a mim o teu sofrer passar pudesse,<br />

Gozo me fora a dor que te espezinha...<br />

Como te aperta a angústia o frágil peito!<br />

E Deus, que tudo vê, não ta extermina,<br />

Deus que é bom, Deus que é pai, Deus que é perfeito.<br />

Sim... é pai, mas, a crença no-lo ensina:<br />

- Se viu morrer Jesus, quando homem feito,<br />

Nunca teve uma filha pequenina!<br />

[8.22] AUGUSTO DE LIMA (1860-1934)<br />

NOSTALGIA PANTEÍSTA<br />

Um dia, interrogando o níveo seio<br />

de uma concha voltada contra o ouvido,<br />

um longínquo rumor, como um gemido,<br />

ouvi plangente e de saudades cheio.<br />

Esse rumor tristíssimo, escutei-o:<br />

é a música das ondas, é o bramido<br />

que ela guarda por tempo indefinido,<br />

das solidões marinhas donde veio.<br />

Homem, concha exilada, igual lamento<br />

em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento<br />

aos recessos do espírito volveres.<br />

É de saudade, esse lamento humano,<br />

de uma vida anterior, pátrio oceano<br />

da unidade concêntrica dos seres.<br />

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