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o soneto brasileiro

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[4.54] Tem cabimento, neste lugar, a observação de que a influência da<br />

técnica chamada parnasiana teve sempre em Portugal acolhimento bastante<br />

medíocre. Antero de Quental, como sonetista, escapa a qualquer<br />

classificação escolástica. Posto assevere Teófilo Braga que "os<br />

'Sonetos' de Antero produziram uma forte impressão, não só pela<br />

profundidade dos sentimentos como também pela perfeição esmeradíssima da<br />

forma" (11), opinião esta reforçada por Fidelino de Figueiredo, ao<br />

referir-se, a propósito dos mesmos <strong>soneto</strong>s, "àquela forma impecável, em<br />

que nada falta e nada sobra" (12), julgamos nós, embora sem autoridade<br />

credenciável na matéria, que, nos aludidos poemas de Antero, realçam<br />

muito mais a austeridade e a inquietude do pensamento filosófico,<br />

vazado, aliás, em linguagem nem sempre cristalina, do que o lavor<br />

artístico das estrofes. Ainda dos próprios <strong>soneto</strong>s do último período<br />

(1880-1884) ressalta esse caráter intrínseco da poesia anteriana.<br />

[4.55] Não estará muito longe deste pensar o parecer de Oliveira<br />

Martins, quando, um pouco confusamente, assim se expressa, ao prefaciar<br />

a sua edição dos "Sonetos": "É artista (Antero), no que a arte contém de<br />

mais subjetivo. A sua poesia é escultural e hierática, e por isso mesmo<br />

fantástica. É exclusivamente psicológica e dantesca; não pode pintar,<br />

nem descrever: acha isso inferior e quase indigno". (13)<br />

[4.56] Repita-se: o parnasianismo, sobretudo o lecontiano ou herediano,<br />

não teve aceitação entusiástica em Portugal. A "necessidade", proclamada<br />

por Leconte de Lisle, no prefácio da 1ª edição dos "Poèmes barbares"<br />

(1852), de rompimento com aquela sorte de poesia, "que não é senão a<br />

confissão pública das angústias da alma" (14), não preocupou os poetas<br />

portugueses. Aliás, a decantada "impassibilidade" do Parnaso não poderia<br />

compadecer-se com a índole da poesia peninsular, cuja característica<br />

fundamental, como muito bem ponderou D. Carolina Michaëlis de<br />

Vasconcelos, é ser "lírica, inteiramente penetrada de doçura elegíaca e<br />

de sentimentalidade entusiasta".<br />

[4.57] Antero de Quental é, contudo, a quaisquer luzes a que seja<br />

considerado, o maior sonetista português dos últimos tempos, senão de<br />

todos os tempos, uma vez que nos desvencilhemos de certos preconceitos<br />

supersticiosos de classicismo, aliás já distantes do nosso horizonte<br />

mental.<br />

[4.58] Registremos aqui, para brilho desta página, três dos seus grandes<br />

<strong>soneto</strong>s:<br />

[4.59] HOMO [Antero de Quental]<br />

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