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o soneto brasileiro

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leitor pouco afeiçoado a letras, com a às vezes aparente falta de razão<br />

de ser da notoriedade deles.<br />

[6.7.5] Entre nós, onde não são muito escassos esses "vasos floridos",<br />

como lhes chamarei, de preferência a "vasos fendidos", por ser mais<br />

adequado o adjetivo aos poemas por ele qualificados, alguns existem que<br />

serão autênticos jarros de alabastro, e não de louça comum. Um deles<br />

será aquela "Barcarola" da "casa branca da serra", poemeto sentimental<br />

que trouxe à estima da posteridade o nome do poeta alagoano Sebastião<br />

Cícero de Guimarães Passos (1867-1909), tomando consigo o tácito<br />

compromisso de deixar no mais escuro olvido as poesias contidas nos dois<br />

livros do autor ("Versos de um Simples" [1891] e "Horas Mortas" [1901]),<br />

nos quais figuram poemas dignos de maior apreço da parte dos amantes das<br />

belas estrofes.<br />

[6.7.6] Dentro do círculo particular da história do <strong>soneto</strong>, fenômenos<br />

literários da mesma categoria dos ocorridos com os poemas de Arvers e de<br />

Blanco White, a que já nos referimos, hão sucedido entre nós, embora em<br />

âmbito muito mais restrito do que o daqueles.<br />

[6.7.7] Para explicação desses fatos, todos enquadrados num meio<br />

sobremodo iletrado e só parcialmente atraído pelas seduções da arte<br />

literária, é de mister que se faça a necessária distinção entre o<br />

critério que preside ao julgamento popular e ao juízo crítico<br />

propriamente dito. Aquele, é bem de ver, se exerce de maneira<br />

superficial, ao sabor da mal educada sensibilidade do leitor comum,<br />

enquanto o outro, afinado pela cultura literária, exige alguma coisa<br />

mais do que incentivo a aleatório devaneio do espírito. Para<br />

estabelecer-se a reciprocidade de ânimo ou a mútua compreensão entre o<br />

poeta e o seu leitor, necessário se faz que o primeiro consiga<br />

transmitir ao segundo certa vibração intima, de fácil receptividade, que<br />

traduza, de maneira eloqüente e singela, sentimentos, estados d'alma ou<br />

maneiras de sentir as impressões das coisas. Essa correlação de<br />

sentimentos se encontra igualmente entre o compositor musical e o seu<br />

auditório.<br />

[6.7.8] Como o homem é a criatura que procura obstinadamente algum<br />

intrujão que o ludibrie, claro está que o poeta poderá muito bem, dentro<br />

da órbita em que opera, com a sua arte criadora e interpretadora do<br />

ideal e das mais altas e belas aspirações humanas, desempenhar o papel<br />

daquele intrujão, com o apresentar à sua voluntária vítima a face do<br />

espelho mágico em que esta se revê sem a menor resistência. Terá sido<br />

por este motivo que Baudelaire julgava ver nos sortilégios da arte "um<br />

ópio divino para os corações mortais".<br />

[6.7.9] Além disso, é inegável que a intuição da turba humana que lê não<br />

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