13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

SONETO DA PORCARIA [Anônimo]<br />

Que fio de ouro, que cabelo ondado,<br />

piolhos não criou, lêndeas não teve?<br />

Que raio de olhos blasonar se atreve,<br />

que não foi de remelas mal tratado?<br />

Que boca se acha ou que nariz prezado<br />

aonde monco ou escarro nunca esteve?<br />

E de que tal cristal ou branca neve<br />

não se viu seu besbelho visitado?<br />

Que papo de mais bela galhardia<br />

que um dedo está do cu só dividido,<br />

não mija e regra tem todos os meses?<br />

Se amor é tudo merda e porcaria,<br />

e por este monturo andais perdido,<br />

cago no amor e em vós trezentas vezes.<br />

SONETO ASCOROSO [Abade de Jazente]<br />

Piolhos cria o cabelo mais dourado;<br />

Branca remela o olho mais vistoso;<br />

Pelo nariz do rosto mais formoso<br />

O monco se divisa pendurado.<br />

Pela boca do rosto mais corado<br />

Hálito sai, às vezes bem ascoroso; [pronuncia-se "ascroso"]<br />

A mais nevada mão sempre é forçoso<br />

Que de sua dona o cu tenha tocado.<br />

Ao pé dele a melhor natura mora,<br />

Que deitando no mês podre gordura,<br />

Fétido mijo lança a qualquer hora.<br />

O cu mais alvo caga merda pura:<br />

Pois se é isto o que tanto se namora,<br />

Em ti mijo, em ti cago, ó formosura!<br />

[2.44/50] Concordo que a sedução exercida pelo poder de síntese, quando<br />

não pela lei do menor esforço, seja insuficiente para explicar a<br />

perenidade do <strong>soneto</strong>, ou para distingui-lo do haicai e da trova, outros<br />

moldes igualmente breves. Mas não me inclino, ao contrário de Cruz Filho<br />

222

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!