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o soneto brasileiro

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Apenas já diviso a minha Aldeia;<br />

Já do cipreste não distingo a faia:<br />

Tudo em silêncio está. Só, lá na praia,<br />

Se ouvem quebrar as ondas pela areia.<br />

Com a mão na face, a vista ao Céu levanto,<br />

E cheio de mortal melancolia,<br />

Nos tristes olhos mal sustenho o pranto;<br />

E se inda algum alivio ter podia<br />

Era ver esta Noite durar tanto,<br />

Que nunca mais amanhecesse o dia!<br />

[4.44] Manuel Maria Barbosa du Bocage foi, consoante a observação do<br />

crítico Sotero dos Reis, "o último poeta clássico digno desse nome, ou<br />

antes um intermediário entre clássicos e românticos". Divergindo da<br />

opinião de Teófilo Braga, que considera materialmente bem feitos os<br />

<strong>soneto</strong>s de Bocage, mas desprovidos de ideal e do espírito de<br />

profundidade e de melancolia só encontrável em Camões, é de parecer o<br />

citado crítico que Bocage "excedeu neste gênero, em que pode-se dizer<br />

que não tem rival em língua viva, não só aos italianos, mas ao próprio<br />

príncipe dos poetas portugueses, que nele até aí não tinha ainda sido<br />

igualado pelos seus". (9) E termina o mesmo crítico: "Assim é ele ainda<br />

hoje o primeiro poeta da língua portuguesa no <strong>soneto</strong>, e o será<br />

provavelmente por muito tempo, até que volte o gosto para esta espécie<br />

de poesia, e apareçam engenhos superiores ao seu, o que será raro".<br />

[4.45] Merecem ser lidos os <strong>soneto</strong>s de Bocage que aqui se transcrevem:<br />

[4.46] [original de Bocage]<br />

Grato silêncio , trêmulo arvoredo,<br />

Sombra propícia aos crimes e aos amores,<br />

Hoje serei feliz! Longe, temores,<br />

Longe, fantasmas, ilusões do medo.<br />

Sabei, amigos Zéfiros, que cedo<br />

Entre os braços de Nize, entre estas flores,<br />

Furtivas glórias, tácitos favores<br />

Hei de enfim possuir: porém segredo!<br />

Nas asas frouxos ais, brandos queixumes<br />

Não leveis, não façais isto patente,<br />

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