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o soneto brasileiro

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suspenso aos fios das hipóteses de Ptolomeu e Tycho Brahé. O nosso<br />

mundo, newtoniano e laplaciano, assenta em mais sólidos alicerces,<br />

embora não definitivos, como tudo mais, conforme o pensar de James Jeans<br />

("Origem do Sistema Solar").<br />

[4.19] Com exceção de Luís de Camões - que peco espírito, que indigência<br />

de idéias, que pobreza de vocabulário, que vazio de pensamento<br />

filosófico, que "apagada e vil tristeza", em todos aqueles claudicantes<br />

poetas de então, não obstante a soberana vigência das suas regras<br />

gramaticais e métricas, que os encadeavam ao seu detestável potro! E que<br />

planetária distância não os separa, pelo espírito e pela arte, de Antero<br />

de Quental, de Raimundo Correia e de Olavo Bilac, poetas da mesma<br />

estirpe e da mesma língua!<br />

[4.20] Reconheçamos tudo isto, mas não menosprezemos aqueles pequenos<br />

obreiros históricos da arte do <strong>soneto</strong> português. Justo é que se<br />

desconte, ao versá-los a todos eles, a pressão do mundo em que viveram,<br />

quando a hoje radiosa língua lusitana, mal saída das mãos trêmulas dos<br />

trovadores dos "Cancioneiros", preparava apressadamente o seu farnel<br />

para a longa viagem que ia continuar através dos séculos. Perdoemos os<br />

pecadilhos e negligências aos pequenos poetas quinhentistas, e aos que<br />

vieram logo depois deles, hoje quase todos esquecidos; não os<br />

condenemos, com a invocação dos nomes de Shakespeare, Racine, Molière e<br />

outros, poetas de outras nações, e quase todos do século dos Seiscentos.<br />

[4.21] Não nos esqueçamos também de que não existe engenho, em matéria<br />

de construção de estufas, que consiga fazer vicejar, em climas<br />

tropicais, a flor alpina e pirenaica chamada "edelvais", como também não<br />

haverá jardineiro que faça medrar e florir um cacto do nosso árido<br />

sertão nordestino nas encostas nevadas dos Alpes ou dos Pirineus. Cada<br />

século tem o seu clima próprio, e a mentalidade humana é moldada por<br />

esse clima. Certo, dos balbúcios, tartamudeios e chocarrices literárias<br />

daqueles pequenos versejadores proveio o nosso <strong>soneto</strong> atual.<br />

[4.22] É preciso também não deixar na sombra o fato de haver este poema,<br />

naquele século, atingido o seu apogeu com Luís de Camões (1524?-1580):<br />

"Aquela matéria poética, - escreve o já muito citado Fidelino de<br />

Figueiredo - que, extraída do ideal amoroso e literário de Petrarca,<br />

vimos vir sendo elaborada desde Sá de Miranda, em sucessivos ensaios,<br />

como à busca da perfeita expressão nunca atingida, encontrou no<br />

temperamento poético de Camões cabal realização, e dentro da forma para<br />

que nascera: o <strong>soneto</strong>... Como conseguiu o poeta passar da categoria de<br />

imitador do <strong>soneto</strong> petrarquiano à categoria de criador do <strong>soneto</strong><br />

camoniano? Em primeiro lugar, dominando completamente a execução externa<br />

do <strong>soneto</strong>, já quanto à estrutura da frase que se lhe torna plástica para<br />

se moldar obediente ao seu propósito, já quanto à metrificação que<br />

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