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o soneto brasileiro

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lhe foi hostil e, astuto, em sua teia<br />

bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia<br />

o que havia de raro e de mais fino.<br />

Foram damas tais ossos, foram reis,<br />

e príncipes e bispos e donzelas,<br />

mas de todos a morte apenas fez<br />

a tábua rasa do asco e das mazelas.<br />

E ali, na areia anônima, eles moram.<br />

Ninguém os escuta. Os ossos não choram.<br />

[8.75] RUY ESPINHEIRA FILHO (1942)<br />

SONETO DO CORPO<br />

Corpo de sol e mar, não me pertences.<br />

Não me pertences - e, no entanto, em mim<br />

ondeias e marulhas num sem fim<br />

de amavio. E cintilas, e me vences,<br />

e me submetes - eu, o siderado<br />

a teus pés. Eu, o pobre. Eu, o esquecido.<br />

Eu, o último. O morto - e o renascido!<br />

Tudo por teu poder, ó iluminado<br />

corpo de brisa e pólen, ventania<br />

e pedra! Harmônico e contraditório<br />

e presente e alheio, flama e pena.<br />

Feito de vida, enfim: desta alegria.<br />

Em si. Porém, em mim, campo ilusório<br />

em que a memória pasce - e me envenena.<br />

[8.76] ANTÔNIO CÍCERO (1945)<br />

DITA<br />

Qualquer poema bom provém do amor<br />

narcíseo. Sei bem do que estou falando<br />

e os faço eu mesmo, pondo à orelha a flor<br />

da pele das palavras, mesmo quando<br />

assino os heterônimos famosos:<br />

Catulo, Caetano, Safo ou Fernando.<br />

Falo por todos. Somos fabulosos<br />

por sermos enquanto nos desejando.<br />

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