13.12.2012 Views

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

o soneto brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Canta a alâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto<br />

Acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua.<br />

O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto<br />

Aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.<br />

Íon treme, estremece. Adora o ritmo louro<br />

Da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava<br />

Finas frechas de luz na cúpula aquecida...<br />

Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...<br />

Mas sua alma -- por Zeus! -- na água azul doutra Vida<br />

Lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.<br />

[5.49] Concordo que o modernismo se desmereça ao olhar parnasiano de<br />

Cruz Filho, mas seria inexato afirmar que o movimento "não interessa" ao<br />

estudioso do <strong>soneto</strong>, ainda que o sonetismo de Guilherme de Almeida,<br />

Bandeira, Drummond, Jorge de Lima ou Vinícius possa ser estudado como<br />

"recaída" parnasiana. Não se trata, porém, de nenhum retrocesso: os<br />

tempos são outros, e não será porque alguém pratica o sonetismo com<br />

rigor formal, ou com hermética temática, que estará condenado a receber,<br />

eternamente, os rótulos de parnasiano ou simbolista. Como sustenta o<br />

próprio Cruz Filho, o <strong>soneto</strong> sobrevive, através dos séculos, a todas as<br />

transformações culturais, o que me autoriza a adotar, simultaneamente,<br />

os rótulos de "pornosiano" e de "barrockista". A propósito da<br />

modernidade, teorizei alhures o que segue.<br />

[5.49.1] Stéphane Mallarmé (1842-1898) é parnasiano no rigor formal,<br />

simbolista no hermetismo e modernista na antecipação das experiências<br />

novecentistas. Sua proposta poética dá um passo em direção às vanguardas<br />

e passa a bola a Apollinaire. No Brasil, consegue até a proeza de levar<br />

Augusto de Campos a retrabalhar o <strong>soneto</strong> a fim de transcriá-lo.<br />

[5.49.2] As vanguardas cubista, futurista, dadaísta e surrealista<br />

repercutem entre as artes plásticas e a poesia, com inevitáveis<br />

conseqüências na forma do poema. Guillaume Apollinaire (1880-1918) foi<br />

um dos responsáveis pela antecipação dessas rupturas na poesia francesa.<br />

Um de seus <strong>soneto</strong>s foi recriado em português desta maneira:<br />

HERCULE ET OMPHALE [original de Apollinaire]<br />

Le cul<br />

D'Omphale<br />

Vaincu<br />

S'affale.<br />

309

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!