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Caminhos Cruzados - Erico Verissimo

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a mulher na obra de<br />

erico verissimo<br />

Mozart Pereira Soares<br />

1. Mulheres por excelência.<br />

Numerosas confissões de <strong>Erico</strong> <strong>Verissimo</strong> elucidam o<br />

posicionamento da mulher em sua obra. Numa de suas<br />

palestras sobre estética literária com Floriano Cambará (o<br />

Autor travestido de personagem), tio Bicho, a certa altura,<br />

declara:<br />

“— (...) Outra coisa. Aposto como seguirás nesse romance<br />

tua velha linha...<br />

— Qual?<br />

— A parcialidade para com as mulheres. Tuas<br />

personagens do sexo feminino (se não me falha o olho crítico<br />

nem a memória) sempre têm melhor caráter que as do sexo<br />

masculino. Para resumir o assunto, teus romances são escritos<br />

(não te ofendas) dum ponto de vista quase feminino”. {1}<br />

Desta confessada ginofilia resulta uma espécie de<br />

ginocentrismo característico de <strong>Erico</strong> <strong>Verissimo</strong>. Notória é a<br />

constância com que os tipos femininos ocupam uma posição<br />

central e mesmo dominante em suas obras. Seu primeiro ciclo<br />

novelístico, a encerrar-se com Olhai os Lírios do Campo nos<br />

revela uma trindade de marcado relevo: Clarissa, Fernanda e<br />

Olivia. O Resto é Silêncio é inteiramente construído sobre o<br />

suicídio de uma jovem. Finalmente, na galeria heróica de O<br />

Tempo e o Vento, o processo atinge o nível do óbvio. É<br />

interessante notar-se, ainda, que estas personagens evoluem<br />

sincronicamente com o Autor.<br />

À medida que ambos dilatam seus horizontes vitais, elas<br />

vão se apresentando cada vez tão mais amadurecidas física e<br />

espiritualmente que nos permitem o traçado de um gradiente,<br />

partindo da “rapariga-em-flor” da novela de estréia para a<br />

matriarca dos Campolargos de Incidente em Antares. Outra<br />

característica que não pode ser negligenciada nessa obra: seus<br />

tipos femininos são mulheres por excelência, e não apenas as<br />

fêmeas que se encontram na fauna comum dos romances,<br />

inclusive modernos.<br />

2. Fórmula masculina e fórmula feminina.<br />

A apresentação das personagens de ambos os sexos<br />

obedece a esquemas diferentes. Via de regra, nos homens, ela<br />

é direta. Depois de um rápido retrato físico, não raro em<br />

traços caricaturais, ele nos fornece um esboço da fisionomia<br />

moral da personagem que passa a agir. Às vezes, estas ações<br />

são apenas relatadas (caso freqüente com as figuras de<br />

segundo plano).<br />

Sua fórmula feminina é, na realidade, inversa. Nunca elas

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