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garçon chega com os coquetéis bem no momento em que<br />
entra na sala um homem alto, de sobretudo escuro.<br />
E a idéia de o recém-chegado ser um conhecido que pode<br />
sair a contar que a viu sozinha numa casa de chá com um<br />
homem — quebra o encantamento de Chinita, que esquece<br />
Hollyw ood.<br />
— Salu, e se alguém nos vê aqui?<br />
Outra vez a provincianazinha — pensa ele.<br />
— Que mal faz?<br />
A palavra mal lembra a Chinita o que aconteceu ontem.<br />
Ela se cala mas seus olhos dizem tudo. Salu compreende.<br />
Ergue o cálice.<br />
— Saúde!<br />
Bebe. Chinita o imita. A conversa das inglesas ganha<br />
vida. O homem de sobretudo escuro pede um chá com torradas<br />
em voz alta.<br />
Os olhos de Chinita se fixam no rosto de Salu e estão<br />
perguntando: “E agora que vai ser de mim?”<br />
Inclinando-se bem para a frente como se fosse beijá-la,<br />
ele pergunta com voz macia:<br />
— Arrependida?<br />
Por um instante Chinita fica indecisa. Não esperava que<br />
ele tocasse no assunto assim desta maneira... Podia começar<br />
com rodeios. Arrependida?<br />
Ela sacode a cabeça, fazendo que não. Mas intimamente<br />
não sabe realmente o que sente. Aquilo tudo foi tão ligeiro,<br />
tão violento, tão doloroso, tão inesperado...<br />
E Salu (efeitos da bebida? sugestão do ambiente?) de<br />
repente dominado por uma onda de ternura, começa a falar.<br />
Ao mesmo tempo que fala se despreza a si mesmo por ser tão<br />
idiota, tão tolo, tão piegas.<br />
— Chinita, eu sei o que estás pensando de mim. Mas<br />
pouco me importa. Ainda hei de te provar que te amo de<br />
verdade.<br />
Amo... — pensa ela. — Nunca pensei que ele pudesse falar<br />
assim<br />
Ȧs inglesas pagam a despesa, amassam a ponta dos<br />
cigarros contra o cinzeiro, erguem-se e vão embora. Salu<br />
continua:<br />
— Não, nem podes imaginar o que é o amor. O que<br />
aconteceu ontem foi uma coisa brutal mas inevitável, (Como<br />
isto parece uma cena de romance barato! — pensa ele.) Mas tu<br />
vais ver... Eu te mostro. O amor é lindo, lindo mesmo. Não foi<br />
Deus que fez o amor? Pois tudo que Deus fez é bom...<br />
Para que meter Deus neste negócio? — pensa ela,<br />
defendendo-se contra a onda quente que também ameaça<br />
arrastá-la. Ela veio decidida a falar em casamento, em<br />
arranjar um meio de reparar o mal. No fim de contas, gosta de<br />
Salu, gosta de verdade. Por ele é capaz de todas as loucuras. E<br />
depois do que aconteceu, que loucura maior poderá cometer?<br />
A voz dele continua, envolvente: