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No terceiro andar do Edifício Colombo, no apartamento<br />
número 9, vê-se pregada à porta uma pequena placa esmaltada<br />
com estes dizeres:<br />
MLLE NANETTE THIBAULT.<br />
MANICURE.<br />
O subtítulo manicure é para tranqüilizar o Mascarenhas<br />
encarregado do edifício. Uma “mademoazela” sem profissão<br />
que mora em apartamento não pode ser boa coisa... As<br />
famílias podiam reclamar. O homem relutou em alugar o<br />
apartamento para a mulher loura e pintada. Ela gostou dos<br />
alojamentos. Custavam 600$000 por mês? Pois ela pagava<br />
700$000, contanto que lhe dessem o contrato. A casa era nova,<br />
confortável, os elevadores funcionavam bem, o ponto era<br />
central, o apartamento tinha o número de peças que lhe<br />
convinha... Mas Mascarenhas hesitava. O Cel. Zé Maria Pedrosa<br />
interveio conciliador.<br />
— A madama é séria — garantiu ele.<br />
E para tranqüilizar o Mascarenhas, acrescentou, num<br />
prodígio de cinismo:<br />
— Conheci a família dela.<br />
Na cidade do interior de onde Zé Maria viera, “conhecer<br />
a família” era o melhor dos documentos, a mais legítima das<br />
garantias. Mas o Mascarenhas estava duro:<br />
— Eu sei, coronel. Mas é que temos famílias que podem<br />
reclamar. Eu sei que a madama é boa... Se ao menos ela<br />
tivesse uma profissão...<br />
O coronel foi perdendo a paciência (tinha heróis<br />
farroupilhas no sangue) e, para não fazer uma violência,<br />
resolveu botar tudo em pratos limpos. Chamou o Mascarenhas<br />
para um canto e disse claramente:<br />
— Não gosto de falsidade. Essa madama é minha amásia.<br />
Mas lhe garanto que é acomodada. Aceite ela, homem. Eu pago<br />
oitocentos e respondo pelo que acontecer.<br />
Seu Mascarenhas, comovido pela franqueza, amoleceu um<br />
pouco. Mas ainda opôs obstáculos... A falta de profissão era o<br />
diabo...<br />
A francesa teve uma idéia. Sugeriu uma placa em que,<br />
por baixo de seu nome, viesse a palavra: manicure. Era uma<br />
profissão, ninguém podia dizer o contrário. O Mascarenhas<br />
achou a idéia muito boa e fechou o negócio. Manicure era a<br />
palavra mágica que haveria de apagar todos os pruridos de<br />
moralidade dos habitantes do edifício.<br />
Por trás dessa porta em que branquela a placa de<br />
letrinhas negras fica um pequeno hall, com um cabide de<br />
espelho: no cabide, o chapéu do Cel. Pedrosa. Depois do hall<br />
vem a sala de estar: um divã, duas poltronas, um abajur verde,