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E corre para o vestiário. Mete-se debaixo do chuveiro e<br />
pede ao ecônomo a sua roupa de banho.<br />
Quando chega à piscina, Chinita está no alto da prancha,<br />
preparando-se para o salto. Podia fazer como Vera: erguer os<br />
braços, ficar na ponta dos pés e projetar-se. Movimentos<br />
simples: poucos segundos. Mas para ela isso não é bastante.<br />
Para gozar a piscina, o salto, a tarde, o Esportivo<br />
América ela precisa imaginar que isto não é Porto Alegre,<br />
precisa convencer-se de que está em Hollyw ood e é Joan<br />
Craw ford, ou Carole Lombard... Olha em torno. Lá em cima,<br />
céu azul e iluminado. Na frente os dois pavilhões do clube,<br />
com o seu alpendre cheio de vestidos coloridos, mesas, vozes e<br />
músicas. As quatro pelouses de tênis, de terra batida de tijolo.<br />
O jardim com a estátua do homem nu atirando um disco: os<br />
canteiros de relva lustrosa. Para além dos muros, os telhados,<br />
os quintais e, lá mais longe, a cidade, a ponta da Cadeia, a<br />
chaminé duma usina mandando para as nuvens um penacho<br />
grosso e escuro de fumaça (como o cigarrão do vovô Eleutério<br />
— pensa ela), as torres da Igreja das Dores... Depois, o rio<br />
chamejando a mancha verde-escura das ilhas, lanchas,<br />
catraias... Chinita passeia os olhos pela paisagem. Ela é Joan<br />
Craw ford. Uma festa na vivenda dum mister rico. Clark Gable<br />
foi botar a sua roupa de banho. A história é simples... Ela é<br />
uma herdeira rica que veio do far west. Ele, um rapaz da<br />
cidade. Um gangster? Sim, um gangster, para ficar mais<br />
sensacional. Mas um gangster que tem bom coração e no fim<br />
acaba se regenerando e casando com ela. Mas um dia a família<br />
da heroína, cujo pai é assassinado pelo gangster... Credo!<br />
Assassinado, não, pode ser agouro até... Melhor mudar o enredo.<br />
Era uma vez...<br />
Os olhos de Chinita caem em Salu. Então, para que ele a<br />
admire, para que tenha dela uma impressão melhor, Chinita<br />
ergue os braços, levanta os olhos para o céu...<br />
Salu estaca, e fica olhando para a rapariga. Contra o<br />
fundo azul do céu se recorta a figura dela, como num cartaz,<br />
desses que anunciam sabonetes, roupas de banho, ou praias de<br />
veraneio da Califórnia ou da Côte d’Azur. Para Salu agora<br />
Chinita apareceu sob um novo aspecto. O maiô preto e justo<br />
não dá motivo a suposições, asas à fantasia, porque não<br />
esconde quase nada, nem dissimula as formas. Os cabelos de<br />
Chinita estão escondidos pela touca de borracha vermelha,<br />
presa à cabeça por duas tiras amarradas por baixo do queixo.<br />
Os seios avançam num relevo atrevido. Onde o maiô termina,<br />
começam as coxas — morenas, lisas, rijas, roliças, longas;<br />
depois, as pernas bem torneadas e os pés pequenos. Salu sente<br />
vontade de se transformar em água para aparar aquele corpo<br />
no ímpeto do salto.<br />
Chinita olha para a piscina e no segundo mesmo em que<br />
se atira para baixo feito um torpedo cuja ponta é formada