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dentro. Ninguém entende ele. Às vezes se distrai. Anteontem<br />
apareceu sem gravata. Depois se esqueceu da lição e começou<br />
a falar em Astronomia, num tal Nistai.<br />
— Einstein — corrige Fernanda.<br />
— Sei lá... Bota mais café aqui que é melhor.<br />
Fernanda despeja mais café na xícara do irmão. D.<br />
Eudóxia começa a comer com certa relutância, devagarinho,<br />
com o ar de quem diz: “Não adianta... Ninguém faz caso de<br />
mim. Estou morrendo e ninguém se importa...”<br />
Batem à porta.<br />
— Entre!<br />
Entra um menino. Terá quando muito sete anos, é magro,<br />
amarelo e está descalço e sujo. Fica perto da porta parado,<br />
olhando.<br />
— Que é que queres, Bidinho? — pergunta Fernanda.<br />
— A mamãe mandou dizê se a senhora não tem uma vela<br />
pr’emprestá pr’ela.<br />
Monótona e lisa, a voz é um fio fino.<br />
— Espere um pouquinho.<br />
Fernanda vai até seu quarto e volta de lá com uma vela.<br />
— Tome. Como vai o papai?<br />
— Melhor.<br />
— Bom. Vá direitinho.<br />
Bidinho se vai. D. Eudóxia suspira. Os olhos de Fernanda<br />
por um momento ficam velados de tristeza.<br />
— Credo! — diz Pedrinho. — Quase nem conheci o filho<br />
do seu Maximiliano!<br />
As palavras caem no silêncio.<br />
D. Eudóxia faz a sua profecia de morte:<br />
— Qualquer dia fica órfão de pai, o coitadinho. Seu<br />
Maximiliano não dura uma semana...<br />
— Que agouro, mãe!<br />
— Eu sei, meu filho, sua mãe sabe, já viveu muito, já viu<br />
muito velório.<br />
Um pensamento desagradável passa pela cabeça de<br />
Fernanda. Com que prazer sua mãe assiste aos velórios! Como<br />
gosta de ver defuntos, falar em morte, imaginar desastres...<br />
— Bem! Não se fala mais em morte e doença hoje!<br />
Então, Pedrinho, gostas de Francês?<br />
O rapaz empurra a xícara vazia, com uma careta de<br />
aborrecimento.<br />
— Ora, mana. Não vamos falar em estudos, sim?<br />
Ela sorri.<br />
O gramofone da vizinhança toca uma música alegre.<br />
Fernanda pensa em Noel.<br />
Teotônío Leitão Leiria entra em casa e encontra a filha<br />
no hall. Vera está sentada numa poltrona, a ler uma brochura.<br />
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