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Brasil e China no Reordenamento das Relações ... - Funag

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jorGe arbache<br />

Odisseu ouviu os cantos <strong>das</strong> sereias, mas resistiu desesperadamente, o<br />

que lhes permitiu seguir viagem em segurança.<br />

A relação econômica atual <strong>Brasil</strong>-<strong>China</strong> guarda similaridades<br />

alegóricas com a peça de Homero. A primarização não é desti<strong>no</strong> e<br />

tampouco a crescente dependência à eco<strong>no</strong>mia chinesa deve ser vista<br />

como panaceia para os crônicos problemas econômicos do <strong>Brasil</strong>. O que,<br />

à primeira vista, são sedutoras e irresistíveis facilidades associa<strong>das</strong> a<br />

preços baixos de produtos importados, elevados ganhos com exportações<br />

e acesso facilitado a investimentos e financiamentos pode, na verdade,<br />

ser uma cilada com riscos substanciais e não negligenciáveis ao<br />

crescimento sustentável. A cilada é especialmente significativa para<br />

um país com as características econômicas, demográficas e sociais do<br />

<strong>Brasil</strong>. Diferentemente de muitos outros países emergentes produtores de<br />

commodities, o <strong>Brasil</strong> já tem uma indústria consolidada, inclusive com<br />

market-share internacional não desprezível em alguns setores e, por isso,<br />

tem muito a perder com a estagnação da sua indústria.<br />

A primarização da eco<strong>no</strong>mia também não solucionará os problemas<br />

de pobreza e distribuição funcional e pessoal de renda. Isto porque o setor<br />

de commodities emprega muito pouco. Em 2010, 3,2% dos trabalhadores<br />

formais estavam empregados <strong>no</strong> setor agropecuário e me<strong>no</strong>s de 0,5%<br />

<strong>no</strong> setor mineral. O setor agropecuário, na verdade, destruiu empregos<br />

formais entre 2009 e 2010 (tabela 5) 19 . Além de empregar pouco, o<br />

setor de produtos básicos gera pouco emprego quando cresce. De fato,<br />

a elasticidade-emprego do produto <strong>no</strong>s últimos 10 a<strong>no</strong>s foi a seguinte:<br />

agricultura, 0,23, indústria de transformação, 0,72, e serviços, 0,85 20 . A<br />

primarização não parece ser o caminho mais promissor para a criação<br />

de mais e melhores empregos, e tampouco parece ser o melhor caminho<br />

para um país que elegeu a superação da pobreza e da desigualdade como<br />

seus principais objetivos de políticas públicas.<br />

19 Arbache (2011a) documenta que o valor adicionado médio por trabalhador na manufatura é<br />

375% maior que na agricultura, mas 372% me<strong>no</strong>r que na mineração. Embora o valor adicionado<br />

na mineração seja elevado, o setor gera muito poucos empregos. Note-se que a taxa de crescimento<br />

da produtividade do trabalho na agricultura tem sido maior que na indústria.<br />

20 Esses números se referem ao aumento percentual do emprego para cada 1,0% de aumento da<br />

produção física setorial.<br />

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