O setor turístico versus a exploração sexual na - Ministério do Turismo

Exploração sexual de crianças e adolescentes em Salvador 343
tesca cultura da dissimulação, da violência difusa e do enclausuramento individual
e familiar” (Santos, 1994). Esse híbrido, então, “faz com que o governo
governe muito, mas no vazio — um vazio de controle democrático, um vazio
de expectativas legítimas, um vazio de respeito cívico” (Santos, 1994).
Tomando-se alguns componentes da poliarquia, veremos que eles estão
presentes na realidade brasileira, quais sejam, criação de associações civis,
com predominância de associações comunitárias nas décadas de 1970 e 1980,
o aumento do eleitorado (Santos, 1994) com a aceleração a partir de 1988
com o voto do analfabeto, assim como se implanta um sistema partidário competitivo.
Assim, “por todas as evidências, os requisitos de um sistema poliárquico
foram atendidos apropriadamente pela sociedade brasileira” (Santos,
1994:89), no que se refere aos direitos políticos. Ainda que, aparentemente,
os requisitos poliárquicos sejam cumpridos, encontra-se “um outro país, embutido”
nesse país poliárquico levando as pessoas a viverem “fraturadas entre
dois sistemas”, sem terem muita consciência disso (Santos, 1994:93). As evidências
dessa situação encontram-se na “alienação eleitoral” nas eleições para
a Câmara, computados abstenção, votos nulos e brancos, no “reduzidíssimo
contato entre os eleitores e os políticos em geral” levando a um quadro onde
“o conjunto total das pessoas interagindo não corresponde senão a minúscula
fração das interações possíveis” (Santos, 1994:95). O quadro fica mais sombrio
quando se verifica que a motivação dos contatos, em inquérito nacional
do IBGE de 1988, se dá da seguinte forma: “61% para fazer pedidos, 15% para
reivindicação, 13% para reclamação e, em último, 11% para fazer sugestões”
(Santos, 1994:95), afastando-se completamente da estrutura poliárquica clássica.
Mas o quadro ainda se agrava mais quando se percebe que “os sem renda
ou com renda mínima não têm qualquer contato com políticos ou governantes,
os que têm alguma renda reiteram a relação clientelista-paternalista, e os
que possuem renda mais elevada preocupam-se com o interesse geral” (Santos,
1994:95). Chama ainda mais a atenção o fato de no Nordeste, para grupos de
renda até um salário mínimo, esses contatos são os menores do país (Santos,
1994:95). Os dados expostos mostram uma deformação séria da política, da
forma de fazer política, expressando um forte alheamento da política por parte
dos grupos de baixa renda, fato agravado na região Nordeste. Esse processo
tem imensas repercussões na ausência de lutas mais orgânicas por direitos por
parte desses grupos, inábeis na percepção do seu poder legítimo, o que já, em
si, impede a luta e o respeito às disposições legais e leis.